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Todd Terje It’s Album Time

2014


Se “Jonny and Mary” (com Bryan Ferry) – pela elegância como nos convence da sua simplicidade – se estendesse por 45 minutos, e fosse o único tema deste disco, só por si teríamos um disco do caralho. Só que além desse tema temos mais 11 que, não sendo da mesma estirpe de “Jonny and Mary” – e nada por aqui o é, apesar de o parecer! –, fazem do alinhamento deste disco uma impressionante e luxuosa colecção de temas produzidos com uma proficiência capaz de fazer parar o mais prefeito relógio suíço.

Todd Terje anda nestas andanças há anos suficientes para perceber por onde se deve movimentar. E apesar do enorme currículo – infindáveis EPs e remisturas – só agora se lança no formato de longa duração; o nome do disco, It’s Album Time, é bem evidente do «foda-se, até que enfim, pá!» a que chegamos – até o próprio autor deve ter concluído o mesmo. E como na analogia do vinho do Porto – sim, é um clichê! –, quanto mais velho, melhor. E Todd está cada vez melhor. A descontracção e o sentido de humor têm-no guiado nos últimos anos, e pensando que o homem não se leva a sério, o seu trabalho fala por si. O peso da seriedade da sua música só será comparável com a seriedade gravitacional de um buraco negro, que apenas tem como objectivo sugar toda a luz que se aproxima de si. It’s Album Time faz isso mesmo. Não suga a luz, mas suga toda a nossa atenção para si. Enquanto ouvimos o disco, nada mais acontece à nossa volta.

Da mesma família nu-disco nórdica de Prins Thomas, Lindstrom, ou mesmo o distraído Bjørn Torske, Todd Terje chega no momento em que os primos revelam as primeiras fragilidades criativas. Todd ergue-se elegantemente, e com postura corpulenta, não porque seja um inventivo que re-re-re-reinventa os meandros do disco erudito – isso foi executado competentemente em 1997 quando os Faze Action arquitectaram Plans & Designs –, mas porque tem uma singular capacidade de depuração do género, divertindo-se a desmontá-lo, no entanto não fazendo ideia como o voltar a montar. Qualquer desajeitado ficaria com peças na mão, mas Todd volta a montar tudo ao calhas (socorrendo-se de ferramentas como o funk, jazz ou delírios pop, que manipula com exuberância). A competência está em que o motor fica desconjugado mas a funcionar melhor que antes. Eis a frescura da coisa. Tudo neste disco foi desenhado para durar. Daqui a 10 anos, It’s Album Time estará tão fresco como hoje. E não tardará a Madonna a telefonar a este gajo…

Excelente.

PS: Além de "Jonny and Mary”, um pedido de atenção especial para “Inspector Norse”: aquela raridade que conjuga passado, presente e futuro. Vibrante quando a composição sobreleva por um curto instante de mid-shift a melodia a pura, etérea, beleza, apenas para nos roubar o prazer quando estamos absolutamente arrebatados por ela. Pois. Somos voltados a regressar a ela. É nestes casos em que a música também é uma droga dura.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
26/06/2014