Formados entre finais de 80 e inÃcios de 90, os Notwist tinham nesse tempo uma música punk rock/hardcore. Era nesse tipo de música que encontravam uma forma de estar ligada à intensidade e energia de um som que contrastava com a realidade da pequena vila onde viviam, nos arredores de Munique. Este disco é um disco de mudança, mudança apenas num certo sentido. No sentido de abandonarem quase por completo a veia puramente rock, mesmo assim ainda notada aqui e ali, para encontraram noutro tipo de música, decididamente mais próximo da electrónica, a mesma energia e forma de estar que lhes possibilitava o punk rock.
Apesar de formados à muito tempo, e com alguns álbuns já editados, este Neon Golden representa a primeira proposta da banda com edição fora da Alemanha, onde dispensam apresentações. Mesmo com edição fora de portas sucessivamente adiada, muito por culpa da dificuldade de arranjar editora que lhes possibilitasse esses caminhos, a verdade é que não se poderiam ter entregado mais tempo a este álbum. Para a estreia no resto da Europa, os Notwist passaram cerca de 15 meses em estúdio, na procura da forma e arranjo que cada canção deveria ter. Por isso mesmo, este disco é repleto em pequenos detalhes que a cada audição dão mais gozo e prazer ouvir.
"Neon Golden" é um álbum que mistura ambientes electrónicos de perfil pop e jazz com ambientes mais orgânicos, desde guitarras, percussões orientais e cordas, que de certa forma já vinham do passado da banda. Um álbum de canções que de tão complexas, nos pequenos detalhes e arranjos, por certo muitas vezes alterados em estúdio, conseguem ser simples. Uma simplicidade que passa em muito pela voz de Markus Acher, que é de uma ingenuidade que cativa às primeiras audições. Neon Golden percorre caminhos que começam pela electrónica mas que depois enveredam por ambientes que contêm elementos mais acústicos. "One With The Freaks", é uma canção que demonstra isso mesmo, começo com beats digitais, seguidos depois por guitarradas mais "barulhentas".
Em conjunto, os dez temas que compõem o álbum são, excluindo uma outra excepção,
algo lentos, entre uma melancolia não melancolia, com algumas guitarras em versão
"suave", complementadas depois com melodias sempre agradáveis, que no
seu todo provocam uma audição bastante afável.
"Neon Golden" não seria por certo o álbum que poderiamos esperar dos Notwist, mas, num mundo feito cada vez mais de poucas surpresas e onde o óbvio e igual é cada vez mais habitual, sabe muito bem que surpresas como esta continuem a acontecer.