Ah, os dias fáceis. Os dias sem contas para pagar, sem horas marcadas ou grandes obrigações, queimados sem contemplação e sem qualquer plano para o que há-de vir. A adolescência, falsamente interminável, o doce engano do futuro, a esperança inabalável. A música dos Real Estate é assim, uma espécie de passaporte para um passado de inocência, de facilidades.
Com o anterior – e notável - Days os Real Estate colocaram-se numa posição ao mesmo tempo fácil e complicada. Fácil porque com esse disco se impuseram como um dos nomes maiores do indie guitarrístico, difícil porque a tarefa de fazer melhor do que Days era um gigantesco desafio. Há más e boas notícias; Atlas fica alguns (poucos) pontos abaixo do seu antecessor mas continua a ser suficiente para se afirmar facilmente como um dos melhores registos do género em 2014.
O cenário continua a ser o mesmo; pouco parece ter mudado na estratégia dos Real Estate. Canções desenhadas a régua e esquadro para permitir que as guitarras surjam triunfalmente luminosas, por entre o sol e a preguiça, como se nos quisessem salvar de alguma coisa. E se calhar até conseguem. Sem grandes pressas, devagar devagarinho. Mas a tempo de se tornarem, quase todas, clássicos instantâneos. A música dos Real Estate tem essa qualidade de se registar no tempo como se o tempo não tivesse morada fixa.
Exemplos de notável sucesso existem alguns: “Had to Hear” é um, a instrumental “April’s Song” é outro. Mas o maior sucesso de Atlas - e, em última instância, dos Real Estate – é a capacidade de embalo, de envolvência neste universo de quase adormecimento, de letargia, de uma paz quase impossível. Se não for hoje há-de ser amanhã. Temos tempo. O mundo não vai mudar a partir daqui; mas vai sempre soar gloriosamente optimista.