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Dawn of Midi Dysnomia

2013
Thirsty Ear Recordings


Eu sei, eu sei que 2013 já lá vai e também sei que 2014 já tem uma série de bons discos sobre os quais devia estar a escrever. Mas o Cecílio vai acabar por fazê-lo, e muito melhor que eu, por isso vou simplesmente ignorar que já estamos em fevereiro e dizer-vos que vale mesmo a pena ouvir este Dysnomia apenas e só porque é um óptimo disco.

Todo o disco parece saído de uma espécie de Interzona musical, em que químicos e realidade não só se misturam como também se confudem. Há igualmente um quê de transfonteiriço nos Dawn of Midi que os torna tão difíceis de classificar, como desafiantes de ouvir. Se por momentos os julgamos no limiar do jazz, de seguida apanhamo-los numa curva de ascensão que não é estranha ao post-rock e bem a tempo de dar uma achega ao kraut e algo que para o bom entendimento vamos chamar de “música de dança”.

Se posto assim não dá para imaginar mais que uma cacofonia, basta uma escuta para perceber que as coisas são bem mais simples e claras – pelo menos para o trio. De facto, a estrutura das canções simples e assenta, não raras vezes, na repetição e na circularidade. Lá dentro, trabalha-se muito e bem uma noção física de espaço, que é preenchido pelo contrabaixo e por uma bateria muito assertiva. O piano (e aqui e ali o que parece ser uma guitarra) mantém-se sempre à procura do seu lugar e, polivalente, tanto surge a preencher espaços vazios (“Algol!) como a liderar a parada (“Ijiraq”).

O ambiente do disco é transversalmente intrigante, como se o disco tivesse sido construído transversalmente para nos levar a questionar sobre cada passo que damos. O melhor exemplo é “Moon”, uma espiral descendente e inquisitória – que, surpresa, está tão bem ilustrada na capa. Mas o melhor momento cabe a “Ymir”, uma espécie de mímica instrumental daquilo que Fly Lo e amigos têm feito nos últimos e que faz bater no mínimo o pé, quiçá em jeito de celebração pela rejeição global do MIDI.


António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com
18/02/2014