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The Oscillation From Tomorrow

2013


É possível que as primeiras bandas que venham a cabeça quando se fala em “psicadelismo” e “Inglaterra”, nos dias que correm, sejam nomes como os Toy ou The Horrors. Nada contra. Sao bandas com talento. Simplesmente o mundo não pára nessas profundidades menos vastas. E estes Oscillation são uma ótima e revigorante prova disso. Se é certo que descendem claramente das emanações elétricas dos Spacemen 3, e declaram como influencias nomes como Can, Echo & The Bunnymen, Loop, “Pornography” dos Cure, Pink Floyd e Ash Ra Tempel, denotam um talento enorme na elaboração das suas canções. Aquele sempre delicioso síndroma que nos coloca a abanar a cabeça e a fazer air-guitar-pedal-de-efeitos antes mesmo de podermos pensar se já ouvimos algo semelhante. É som que sabemos que já ouvimos, mas que naquele momento nunca ouvimos. Estamos demasiado entusiasmados para isso.

Pode-se falar em Spacemen 3 sobretudo por causa da voz. Anunciada/rodeada por efeitos, e aparentando nascer no meio de um turbilhão qualquer, em falsa surdina. Jason Pierce desses tempos ficaria orgulhoso. E não seria difícil desejar uma jam session entre ambas as partes. Os ingleses são uma banda de quarto elementos. Embora as duas guitarras, baixo e bateria esperadas, juntem muitas vezes o som de órgãos e percussões. E cada uma dá a sensação do seu executante ter olhos vidrados no meio de fumarada numas catacumbas quaisquer. A secção rítmica provoca enjoo marítimo, enquanto tenta manter o equilíbrio usando a bateria como ponto de orientação. As guitarras desenvolvem sons estendidos, dilatados, arranhados, que não queremos saber de onde nascem, porque preferimos acreditar que a banda tem alguma formula mágica. Mesmo quando sentimos que algo estaria próximo de ser um “single”, como “No Place To Go” ou “Chrome Cat”, temos a ideia que não houve concessões. É apenas The Oscillation a fazerem o que lhes sai naturalmente.

”From Tomorrow” é um disco que merece levar esta banda a outro patamar. Ou pelo menos de gerar atenção suficiente para que o próximo disco assim o faca. Uma ideia que desponta na minha cabeça é que estes tipos devem ser fantásticos ao vivo (infelizmente não pude vê-los no Cartaxo, também porque ainda não os conhecia). Enquanto houver rock psicadélico assim, nunca a expressão “rock psicadélico” será um cliché ultrapassado. Do alto destes riffs, muitas décadas vos contemplam. Mas nós estaremos demasiado envoltos nestas ondas eléctricas gigantes para querermos saber.


Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
20/01/2014