O ano da graça de 2013 foi difícil para muita gente, mas Snoop Lion/Zilla/Dogg fez por ter um ano particularmente inesquecível. Reencarnou mais vezes que Jesus e traiu(-se) mais vezes que Judas. Não necessariamente quando fumou tanta erva que acreditou ser o Bob Marley, mas mais quando fumou tanta erva que acabou a gravar uma música com o David Carreira e um tema machista no médio oriente). Tallvez algo trágico, definitivamente cómico, mas nunca irremediável.
Reza a história que Dâm Funk conheceu Snoop numa galeria e, imaginemos a partir de agora, convidou-o para fazerem qualquer coisa. Qualquer coisa acabaria por se tornar 7 Days of Funk, onde Snoop deixa de lado encarnações para se limitar a ser ele mesmo. Confortável, Snoop é um mestre da palavra, de flow irrompível e uma presença que sem encher, é honesta, confortável e sentida o suficiente para nos cativar e, indo atrás do tom calmo, nos fazer pensar em Prince. É assim de Dâm Funk a tarefa de ser guia e maestro do vício que são estas canções, que o produtor tratou de as tecer e colorir com praticamente tudo o que é teclado. A produção é outro esmero do disco, soando, em partes iguais e com as devidas diferenças, à estética VHS do Prince dos anos 80 e a espacialidade de Billy Paul (vide War of the Gods).
Posto isto, mesmo que 2013 tenha sido um ano horrível, 7 Days of Funk torna-o um ano menos mau. Talvez este seja mesmo o disco mais lânguido e divertido do ano que passou, o que me faz pensar que devia tê-lo aproveitado melhor. De qualquer forma, não acredito que seja o único contagiado pela locomoção de malhas como “1Question?” ou a admitir que caio constantemente no perigoso flirt com “I’ll Be There For You?” ou “Faden Away”. É que isso faria não do ano, mas sim do mundo um lugar mais triste. Este é, na sua essência um disco descontraído e divertido e muitas vezes é o que basta para se ter um grande disco, sem ter que reinventar a roda. Bem jogado também para ti Snoop, talvez tenhas encontrado a melhor companhia para dançar.