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Angel Olsen Burn Your Fire For No Witness

2014
Jagjaguwar


I quit my dreaming the moment that I found you / I started dancing just to be around you. Assim começa o segundo disco da norte-americana Angel Olsen, que nos entra em 2014 quando o fantasma de Scout Niblett está ainda demasiado presente, demasiado empoleirado nos ombros da nossa depressão. Merecíamos isto? Talvez. Até porque bem lá no fundo o desejamos, uma e outra vez - vozes que nos digam que o amor é de facto miserável e que há que cantá-lo assim, amargo como os dias chuvosos de inverno sem nesga de sol que ilumine o passeio.

E falamos de Scout Niblett porque o último disco da cantora britânica tem bastantes semelhanças com Burn Your Fire For No Witness. Não só pela temática do amor-enquanto-prenúncio-de-suicídio como pelo modo que Angel Olsen tem de dizer - ou cantar - as coisas: sofridamente, ternamente, com uma ponta de sexualidade ali metida e a electricidade de uma guitarra a dar vazão aos seus poemas. Ao passo que Scout se apoia nas memórias do grunge (sendo por isso muito mais explosiva, tanto musical como emocionalmente), Angel Olsen recorre à country, à folk e até ao psicadelismo (ouça-se a guitarra no final de "Lights Out" e encontre-se um eco dos Tame Impala).

Menos produzido que o seu antecessor (Half Way Home, de 2012), com um lado lo-fi a permear quase todas as canções, Burn Your Fire... parece-nos um disco em que Angel Olsen procura encontrar a sua própria sonoridade e identidade enquanto cantautora, uma espécie de fuga de debaixo da sombra do mentor e amigo Will Oldham; para já existem coisas como "Forgiven/Forgotten", "White Fire" e a belíssima "Windows" a atribuir-lhe um nome próprio. Mas destacamo-las por preguiça: Burn Your Fire For No Witness é um enorme disco no seu conjunto e o complemento perfeito para mais umas quantas noites de choro. Andámos todos deprimidos em 2013 e ao que parece este ano não será melhor; haja discos assim para apaziguar um bocado.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
02/01/2014