Eis o primeiro LP do produtor Ron Morelli (um dos convidados de Panda Bear para a prometedora noite "Green Ray" de hoje no Lux, em Lisboa), curiosamente sem o selo da L.I.E.S. (Long Island Electrical Systems), a editora baseada em Brooklyn, Nova Iorque, que Morelli tem gerido com mestria. Spit é editado pela Hospital Productions de Dominick Fernow (Prurient), em cujo catálogo despontam Vatican Shadow, Kevin Drumm ou Silent Servant, entre outros. Questionado sobre tal opção, Morelli esclarece que Fernow "propôs que eu fizesse um disco para ele. Se ele não tivesse pedido, então eu não o teria feito".
Apesar de serem enquadráveis nas identidades de ambas as editoras, tanto da L.I.E.S. como da Hospital Productions, as oito faixas de "Spit" revelam-se mais ruidosas e cerebrais do que a generalidade do universo L.I.E.S., daí a coerência do convite de Fernow. Até que ponto o contexto de "encomenda" da Hospital Productions terá influenciado o processo criativo de Morelli é uma questão que fica em aberto até ao advento de uma nova produção. Tudo leva a crer que dificilmente replicará a mesma fórmula sonora.
Spit é um disco curto e conciso, sujo e claustrofóbio, denso e violento. Mas não se interprete esta adjectivação excessiva como um sinal de que se trata de um produto fácil de consumir e simples de catalogar. Pelo contrário, a adjectivação resulta da complexidade das estruturas industriais construídas por Morelli. Os elementos "house" e "techno" são de tal forma processados que acabam por quase não se distinguir sob a maquinaria pesada de "Sledgehammer II" ou a reverberação obsessiva de "Crack Microbes". As coordenadas de Chicago e Detroit cruzam-se com a cena "rock" e "new wave" dos clubes nova-iorquinos de outrora. Para ouvir com moderação.