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Joana Sá Elogio Da Desordem

2013
Shhpuma


Foi o homem que inventou a linguagem. E poderia ser esta, neste disco, o alvo principal de elogio: em primeiro lugar a linguagem falada, a palavra, a prosa de Gonçalo M. Tavares aqui explorada enquanto um som - ou enquanto vários sons, oriundos de vários textos lidos; e, em segundo, a linguagem musical muito própria de Joana Sá, anarquicamente ordenada, ao mesmo tempo selvagem e rígida, turbilhão de pensamentos vagueando pelo éter co-adjuvados por piano semi-preparado, caixas de ruídos, electrónica e amplificadores.

Foi o homem que inventou a linguagem, uma linguagem que se aprende ainda a garganta não lhe sabe atribuir uma voz. Em Elogio Da Desordem, aprendemos não a falar mas a escutar, aprendemos a esperar pelo momento inesperado - e a filosofar sobre tudo isto -, aprendemos que a música pode tornar-se literatura e a literatura música (o booklet em que se insere este CD é um verdadeiro mimo nesse aspecto), aprendemos que a afasia existe até enquanto material sonoro. É um disco difícil; mas há que lê-lo e compreendê-lo de trás para a frente antes de efectuar quaisquer juízos de valor.

O objectivo de Elogio Da Desordem é a liberdade e a surpresa, e consegue-o de forma irrepreensível - em momentos a liberdade é terna, captamos uma melodia agradável ao piano, as brincadeiras em toy piano recordam-nos outros tempos; em momentos segundos assusta-nos de tão fiel a si mesma, campainhas e ruídos diversos sob o sussurro da compositora declamando. Joana Sá elogiou a desordem, nós elogiamos-lhe este trabalho - e dizemo-lo assim porque foi o homem que inventou a linguagem, mas também a simplicidade. Para ler e reler.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
20/11/2013