A 30 de Setembro, dia em que a madura Warp mandou para as lojas R PlusSeven, o seu último trabalho enquanto Oneohtrix Point Never, o único comentário que Daniel Lopatin fez via Twitter foi “musicand non musicwithinfiniteparallelattributes”. A publicação antes dessa foi um elogio ao vulto japonês Ryoji Ikeda, com quem tocou a 27 de Setembro, em Haia.
No entanto, a história deste disco, como foi contada pela editora e pelo próprio Lopatin em várias entrevistas que foi dando ao longo do processo de preparação do disco, era de que este traduziria uma nova abordagem à criação musical relativamente a lançamentos anteriores, mais próxima de uma noção tradicional de composição. Em vez da reciclagem de material encontrado, como os samples de anúncios televisivos usados em Replica (2011), o novo de OPN é construído primordialmente com peças criadas e refinadas em estúdio, de forma a serem mais premeditadamente encaixadas numa forma final mais sintética, mas igualmente hipnótica,do que aquelas que tinha praticado anteriormente, através daquilo a que chamou uma “inversão do eixo” em que imaginava a sua música, para incluir uma noção de ritmo mais aberta, baseada no espaço dado aos diferentes elementos. Já no ano anterior, quando se tinha juntado ao Tim Hecker para o maravilhoso Instrumental Tourist, ambos falaram da importância que dão à criação de objectos sonoros e à sua manipulação plástica, à utilização desse espaço num som necessariamente tridimensional.
A ideia de transformação total do som-matéria-prima não é nada de novo na carreira de Daniel Lopatin, que primeiro chamou a atenção com os Eccojams em que, no pontapé de saída do “movimento” hipnagógico, pegava e desconstruía satiricamente material tóxico, como a "Lady in Red", do Chris de Burgh. A desconstrução e a descontextualização foram e continuam agora a ser, aliás, as constantes mais evidentes desde o início da carreira do músico baseado em Brooklyn. Na verdade, são partes integrantes e cruciais da forma como entende a música ou, pelo menos, como entende a percepção que o ouvinte tem do que está a ouvir. A propósito disto e dos fragmentos de música pop que aparecem, quase sub-repticiamente, em faixas de R Plus Seven ("Zebra" será o exemplo mais evidente), Daniel Lopatin dizia em Setembro passado à FACT, que isso era, para ele, um reflexo da forma como, hoje em dia, se escolhe e se ouve música como pano de fundo para outra coisa qualquer, ou em sistemas sonoros sem qualidade, o que faz com a própria ideia que se fica a fazer do que se ouviu seja distorcida e filtrada por ruído, tanto literal como metafórico. Propositadamente, ou não, está em sincronia com o conceito de “total noise”, cunhado por David Foster Wallace, isto é, “a estática fervilhante de cada coisa ou experiência em si, e a liberdade de infinita escolha acerca daquilo a que se presta atenção” [tradução minha].
Como as coisas em geral - e os grandes discos em particular - não surgem do ar, R Plus Seven é, precisamente, resultado de tudo isto, fruto do sítio peculiar de onde Daniel Lopatin observa e absorve música, desde Paul Lansky, Steve Reich ou o já citado Ryoji Ikeda, a Kanye West e as divas da pop (exemplo disso aqui). E mais uma afirmação definitiva de que Oneohtrix Point Never é um nome incontornável no limbo que ocupa entre a música e a não música, a nostalgia e a fome de futuro, o erudito e o popular.