O encontro da electrónica com a malta do gótico não é novo - essa coisa execrável denominada EBM existe desde os anos 80 e pode ser balizada a partir do momento em que os Sisters of Mercy acharam que uma drum machine era uma tecnologia mui apetecível - mas nos últimos anos, no que ao espectro indie diz respeito, aliou-se definitivamente a uma juventude pós-moderna e alienada que pegou na sensualidade do r&b e no negrume dos Joy Division e pensou que podia fazer muito melhor do que aquilo. Puro engano, mas de quando em vez, dentro desse termo estúpido que é o witch house, lá vão aparecendo umas coisas interessantes.
Ignorando que um dos responsáveis máximos destes micro-acidentes é também o genial Burial, cuja influência aliás encontramos logo em "Sirens", canção que abre este primeiro disco de oOoOO com o ruído de vinil a estalar, de chuva, dessas coisas todas que enaltecem o mistério ou a claustrofobia ou qualquer outro termo que nos leve a pensar em cores pretas ou anti-cores, façamos um pequeno elogio ao projecto de Christopher Greenspan; dentro de todo o lixo que engloba os Salem e quejandos é o melhorzinho. Also known as: esta merda até é fixe, pá.
Espere-se o costume; o beat arrastado, copiado a DJ Screw, vozes masculino-andróginas flutuando suavemente por entre as melodias derramando historietas batidas de amores desencontrados ou falta dos mesmos, uma ou outra cantilena que realmente nos faz erguer as sobrancelhas e bater palmas mentalmente (neste caso, a quarta faixa, com o mesmo título do disco) e uma maneira modesta de passar 35 minutos enquanto se lê o Público online ou se escolhem fotografias para uma reportagem de um concerto dos Equations. Já se perdeu tempo a ouvir coisas muito piores.