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Zola Jesus Versions

2013
Sacred Bones Records


Nika Roza Danilova tem uma voz encantadora. Parte de um contingente mais alargado de cantores e cantoras que misturam uma projecção grave com música mais ou menos sombria, Danilova, que dá pelo nome de Zola Jesus, é a par de Scout Niblett a mais interessante do grupo.

Depois de uma primeira experiência ao vivo no Guggenheim com um tipo com o pouco identificável nome de James Thirlwell, mas com o mais reconhecível epíteto artístico de Foetus e mentor do projecto Manorexia, os dois lançam agora o curto Versions, de uma nem sempre coerente articulação entre a voz de Danilova e as orquestrações de Thirlwell.

Apesar das pontuais falhas ("Fall Back" é sofrível), os pontos positivos mais do que compensam as fragilidades de uma interacção que precisaria de mais tempo para amadurecer e de forma plena gerar a simbiose em falta.

Por norma, quando a electrónica entra em cena, a coisa falha. Nas alturas em que ambos se focam nas orquestrações, a substância da música vem ao de cima e torna-se mais fluida e cativante ("Seekir" é exemplar nesse contraste). Não deixa de ser curiosa a lacuna, mas reflecte o distanciamento actual da força que noutros anos deu nome a Foetus.

A razão para a electrónica fazer com que o álbum fique aquém do que podia ter sido é simples: as canções tornam-se iguais a tantas outras que andam no mercado e soam a mais uma que podia estar aí nos tops sem conteúdo, sem impulso, sem memória. Banal. Já com a almofada orquestral atrás, a história pia mais fino.

Momentos como “Run Me Out” mostram o melhor dos dois mundos. As capacidades de Zola Jesus, uma subvalorizada jovem voz com muito para dar, e o rosto de Thirlwell, um dos mais imprevisíveis artistas dos últimos 30 anos. Versions vale a pena, mas podia valer tanto mais.


Tiago Dias
tdiasferreira@gmail.com
23/09/2013