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Niagara / Nigga Fox Ouro Oeste EP / O Meu Estilo EP

2013
Príncipe Discos


Hoje em dia não é difícil gerar publicidade. Pegue-se na faixa mais rudimentar possível, cole-se-lhe o rótulo "étnico", "periférico" ou "exótico" e, prontamente, hordas atrás de hordas de estudantes de design pós-brancos acorrerão que nem moscas a um garrafão com água de bacalhau a esta "nova" música, sedentos de mostrarem que navegam a crista da onda indie, prontos a esfregar-nos na cara a bandeira do multiculturalismo e do respeito mútuo e da autenticidade seja lá isso o que for, alagando as discotecas da cena desta vida com o suor dos vinte e poucos anos de uma existência sem saber dançar. É isso que faz com que, por exemplo, haja gente que faz crowdsurf em Omar Souleyman, muito provavelmente um dos hypes mais estranhos da memória recente.

Por outro lado, Sr. Gershwin, música é música. Não é preciso sair na capa de um jornal ou sofrer do backlash resultante para encontrar nalguma coisa algo que soe a vitalidade. Sem sequer precisar de soar a vitalidade: tem ritmo, melodia mínima, dá para ficar todo cego e dançar com gente bonita? Então que se foda tudo o resto, os rótulos, o marketing, as críticas e não-críticas. A última frase do parágrafo em cima é auto-referencial. Omar Souleyman, para muitos outros, não existe por ser um objecto estranho: existe porque propicia o divertimento. Existe porque é charmosamente punk no seu método. Uma aura que paira igualmente sobre a Príncipe, editora que tem dado a conhecer inúmeros bedroom names que de outra forma ficariam perdidos nos seus guetos, apesar de, sim, nos parecer mais uma cena lisboeta do que outra coisa. Mas se não cola no resto do país é problema do resto do país; os Niagara e Nigga Fox, e Marfox e tantos outros nomes, não têm culpa nenhuma.

É dos dois primeiros que se fala. Os Niagara têm um novo EP, Ouro Oeste, após os lançamentos na Dromos, a mix para a FACT nacional e a participação na compilação Lisbon Bass. Abre com "OndaBlue", malha de groove saltitante e pensamento aquático, caindo de seguida no traje acid de "Kraftor" e finalizando no house sedutor de "Caracas" e no toque quase-francês de "Verde", porventura a melhor canção que aqui se encontra. EP certeiro que fará muita gente feliz nas supracitadas noites de deboche hipster. Quanto a Nigga Fox, não se espere algo que não África - uma África vibrante, entusiasmante, erguendo bem alto o beat, pronta a conquistar terreno. O Meu Estilo poderia ser um disco normal de kuduro, mas adiciona pózinhos diversos de outros estilos ("Hwwambo" é verdadeiro jungle, não porque faz da velocidade da batida um cartão de visita mas porque evoca memórias que nunca tivemos de uma selva escura onde se escondem os Kurtzs desta vida), sendo que é "Weed" aquela que nos puxa mais para tirar a roupa. O único ponto baixo tanto de um como do outro é, de facto, serem demasiado curtos em termos de duração - algo que se resolve facilmente ouvindo-os de seguida. De resto, dance the night away. Quer sejam branquelas modernos quer não.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
05/09/2013