Passamos pelo site de Matthew E. White e lá estão eles, um CD e um disco em vinil, lado a lado, objectos concretos, coisas que rodam, que se perdem, que se estragam e que podem passar por outros efeitos da física – da nossa e da deles. Bonito de ver, óptimo para perceber o que vai pela ideia deste agora residente de Los Angeles, outrora a vaguear entre Virginia Beach, na outra costa, e Manila. Tudo palavras dele, que faz questão de dissecar a sua própria história no site oficial. Big Inner é o disco que reúne os escritos musicados deste artista, é o tal do bom artista. Disco do ano passado, agora chegado à Europa de corpo inteiro e pronto para se fazer notar.
A música ocupou-lhe as ideias ainda em miúdo, daí que o que entrega à gravação em causa soe intenso de forma tão danada. E intenso aqui é tudo menos o botão de volume a chegar aos dois dígitos. É entrega. Matthew quase sussurra, nem por isso canta com os dois pulmões. Mas não precisa. Fez-se artista graças a uma mistura de padrinhos em disco que mete respeito. Não tem vergonha de ir da Motown a Lee Perry, de Muddy Waters a Randy Newman, dos cânticos do sul às lenga-lengas das montanhas em qualquer parte. É americano e das redondezas, é continental com os olhos postos nas viagens de mar e canta histórias.
O narrador é actor também e o objectivo é a redenção, é a conversão à verdade. Fé também há por aqui mas sem grandes carimbos de propriedade. O que quer que resgate quem ouça da desgraça está bom: seja porque só o amor pode fazer determinadas coisas, ele tem a certeza e entrega-a a quem dela precisa; porque a solidão é chata e dói, resolve lá isso, assim não chegamos a lado algum; porque há um “reino” a construir, mexe-te. E ainda assim, apesar desta carácter imperativo que nos concede, continua ele a fazer o R&B muito pessoal, sem pressas, a sua folk urbana, o seu gospel misturado com a magia de Abbey Road e os seus mais famosos inquilinos. Tudo tão bem embalado que enerva. Nervos dos bons, estes, dos melhores que há por aí.