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Rhye Woman

2013
Polydor


Há uma guerra no seio do r&b: de um lado, a nova vaga indie que pega nas pistas deixadas pelo género ao longo dos últimos vinte anos e que o transforma/reformula/deprime em quantidades exactas, casos dos The xx ou até mesmo de Frank Ocean; do outro, os puristas que preferem um bom banger da Beyoncé ou de Usher ao corta-pulsos da canalhada hipster pós-tudo. E no meio? Aqueles que se estão nas tintas para a guerra e conseguem tanto apreciar a frescura de uma Dawn Richard como a urbano-depressão de um Weeknd. Assim chegamos aos Rhye, duo ainda envolto nalgum mistério que prefere reescrever a sensualidade de Sade Adu ao invés da de Aaliyah (credo, tantos nomes).

Woman, como a criatura que lhe dá o nome, tem ao mesmo tempo o poder de excitar e de acalmar. É um disco propenso à carnalidade - a languidez do beat, a suavidade andrógina da voz de Mike Milosh (sim, é um homem) - e ao mesmo tempo traduz o estado de alma que leva até essa carnalidade, i.e. o romance de boca aberta, a paixão paradoxalmente comedida e desmesurada, o fim da mesma. A principal falha nesta abordagem é que não poderá por defeito ser apreciado por aqueles a quem se destina: Woman é demasiado fiel às questões do amor. Abstenham-se os apaixonados de o ouvir, e os que findaram recentemente relações de fazer o mesmo; vai dar cabo de vós, isso é absolutamente garantido.

O potencial da música em si é enorme - tudo no seu lugar certo, gosto pelo espaço vazio sem ser cliché, sabedoria pop em cada canto. São dez canções apenas, mas todas elas perfeitas ou quase perfeitas; desde a introdução orquestral de "Open" até à suavidade house fajuta da magnífica e trágica "The Fall" (make love to me one more time before you go away...), desde o funk branco de "Last Dance" - até ver uma das canções do ano - até ao sorriso oitentas de "Shed Some Blood", desde o resquício chillwave patente em "3 Days", passando por "One Of Those Summer Days" (uma guitarra com saudades de Chris Isaak) até findar na estranheza electrónica do tema-título. Resumidamente, estão aqui todos os ingredientes para que os Rhye se tornem um caso sério de popularidade, o que provavelmente significa que nunca o serão. O mundo tem destas injustiças. A guerra vende mais.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
05/02/2013