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Rorcal Világvége

2013
Cal of Ror / Sickmangettingsick Records / Lost Pilgrim Records


Os Rorcal têm feito nome ao longo da sua carreira graças ao ritualismo funerário do seu black metal arrastadíssimo. Heliogabalus, o último longa-duração da banda, que já data de 2010, é uma narrativa dedicada ao sol e quase tão longa e lenta quanto o processo de ver um dia nascer e terminar. Durante uma hora, em downtempo, os suíços agridem-nos violenta e precisamente os tímpanos num sacrifício ao deus no céu, como muitos cultos pagãos fizeram ao longo da história.

Ora, se algo mudou com Világvége – e mudou, não apenas no designer da capa (que desta vez é a portuguesa Maria Louceiro) - foi a calma com que os Rorcal construíam a sua música dual, onde a violência do metal se debatia com a dormência dos ritmos menos elevados. Neste novo registo, a urgência de um fim-do-mundo eminente contagia a reverência da banda para a gratuitidade de um black metal feito by the book em pleno século XXI, em que nem o fascínio pelos ambientes clássicos está em falta, em coros do tipo gregoriado e absolutamente arrepiantes. O tremolo picking, os incansáveis blast beats da bateria e, mais importante ainda, riffs completamente possuídos provam que há, sem dúvida, algo de sagrado na arte de fazer metal pagão, principalmente quando o seu resultado é um transe enfurecido e contagiante.

Malhas como Black V e Black IV, mostram que os Rorcal sabem fazer as guitarras gritar furiosamente – e não se deseja menos do que isso numa banda de black metal. Mesmo sem a consistência de ter uma única música a estender-se ao longo de todo o registo (como aconteceu no seu antecessor), Világvége insurge-se como um disco coeso: é bruto em toda a sua extensão. Abençoada seja tamanha heresia.


André Forte
16/01/2013