Há música que nos envolve, cujos acordes são autênticas teias, que nos prendem no primeiro instante para nunca mais nos largar. Há música que nos seduz, cujo ritmo nos hipnotiza e nos transforma num leve corpo que flutua. Há música que traz a alma de quem a compôs, que nos arrepia, que nos faz sorrir pelo prazer, quer na audição, quer no que se mostra inerente à sua produção. É deste género de música que falamos quando ouvimos “Vintage Hi-Techâ€.
Os Spacek continuam o caminho traçado na revitalização da “soulâ€, numa abordagem futurista e sofisticada. Sendo um trio, que comporta a doce voz de Steven Spacek, os ritmos de Zarate e a guitarra insinuante de Cavill, os Spacek utilizam elementos de jazz, hip-hop e funk numa abordagem claramente mais electrónica do que no disco anterior, “Curvatiaâ€.
Ao contrário do que muitas vezes acontece, a escolha do tÃtulo tem um significado, uma justificação, sendo um claro reflexo de como se processa a música dos Spacek e qual o grande objectivo do seu trabalho. “Neste momento estou sentado num banco de madeira, uma peça feita à mão e, simultaneamente, tenho ao lado uma TV com um número infindável de canais e um PC com acesso à Net que me permite trocar imagens com alguém no Japãoâ€. É esta dicotomia passado/presente que marca definitivamente este álbum. São músicas, que tanto nos trazem à memória Barry White e Marvin Gaye como Massive Attack. A noção de que a tecnologia é quem mais impera está bem apreendida e, como tal, tentam tirar o máximo proveito dessa concepção.
A voz aveludada de Steven Spacek mistura-se com linhas de baixos poderosas, sendo ajudada pela cantora Mpho Skeet na última faixa do disco. São melodias frágeis, tal como a voz de Steven Spacek, mas com mensagens fortes, como se a dúvida e a fragilidade fossem o caminho para o equilÃbrio. São silêncios que nos falam aos ouvidos, intercalados com “beats†tÃmidos e hesitantes, que nos envolvem sem aviso. É a depuração da “soul†na era electrónica.