Já la vão sete anos desde Cinder, disco que apesar de não ter alterado grande coisa ao rock instrumental dos australianos se distinguiu na altura pela utilização, pela primeira vez, de vocais - nomeadamente os de Chan Marshall e Sally Timms -, como se os Dirty Three tivessem tido algo a dizer para além das melodias, do ambiente das suas canções. Após este não-hiato, pois que continuaram a dar entrevistas e concertos, o trio não necessitará de muito mais do que isto para formar um discurso que justifique o que seja. Towards The Low Sun é um belo disco, e que não se fale nele como um "regresso" ou "novo rumo" na carreira de Warren Ellis, Jim White e Mick Turner.
Logo a abrir, "Furnace Skies": jam psicadélica, ruidosa e solta como o melhor dos jazzes, que nos introduz na melhor maneira à viagem em direcção ao pôr-do-sol (chamemos-lhe pôr e não nascer, já que este disco nos desperta um certo sabor apocalíptico que, como é óbvio, remete sempre para um fim), a bateria, o órgão e a guitarra fundindo-se num objecto à primeira audição estranho mas que nos agarra se lhe dermos essa oportunidade. Para desaguar numa espécie de balada na mesma toada: "Sometimes I Forget You´re Gone", acompanhada por um piano melancólico, homenageando a saudade.
Até final ainda existe espaço para "Rising Below", de jeito slowcore (não esquecer que já colaboraram com os enormes Low e aqui o sol é... ok, demasiado rebuscado) até rebentar por via do violino de Ellis, da amargamente bonita "Rain Song" e, para terminar com o coração quente, "You Greet Her Ghost". Towards The Low Sun poderia ser comparado ao trabalho anterior do trio, mas não o merece. Avaliemo-lo por si só para que dele se retire tudo o que os australianos nos querem dizer. Que é imenso. Não precisam da ajuda de ninguém.