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Bill Fay Life is People

2012
Dead Oceans


Não deve ser fácil fazer um disco quase quarenta anos depois do primeiro. Muito menos quando tudo – ou quase tudo – o que existe entre 1971 e 2012 é silêncio. A história conta-se rapidamente: Bill Fay lançou dois discos seminais nos idos anos 70, ainda gravou um terceiro (Tomorrow, Tomorrow & Tomorrow, que só mostrou ao mundo em 1995) e tudo o resto é silêncio. Silêncio e um par de reedições que adensaram ainda mais o mistério em redor de Bill Fay.

É reconfortante perceber que o tempo não retirou a Bill Fay a capacidade de escrever grandes canções. De certa forma até lhe deu mais ferramentas para as construir. E sabedoria. Bill Fay (1970) e Time of the Last Persecution (1971), entre a pop sinfónica e o rock, são discos que roçam a perfeição e Life is people consegue a proeza de alcançar tréguas entre esses dois discos tão distintos com a mesma mestria e requinte de outros tempos.

Life is People é um disco de coragem. É um disco sobre saber guardar tudo e devolver no momento certo. Não é um disco que Bill Fay tinha de fazer; é apenas o disco que Bill Fay quis fazer. Sem a pressão de uma carreira, sem o peso das editoras (que o assombrou no passado), sem agenda. É um disco de enormes canções; com o peso, conta e medida que tantas vezes falta a estes dias de produção musical massiva. É um disco de outros tempos, no tempo certo.

Life is People está cheio de motivos para celebrar Bill Fay como um dos maiores escritores de canções das últimas décadas – e apesar da sua curta obra. Mas “Cosmic concerto”, que faz justiça ao seu nome, é a maior de todas e, só por si, um dos grandes acontecimentos musicais do ano. Aqui e em todos os minutos preciosos que o perfazem, Life is People prova que Bill Fay está em paz consigo mesmo. Mas mostra algo mais: que tem ainda muito para oferecer.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
22/11/2012