Ninguém ouviu os Starring em 2010, quando lançaram Wife Of God, um excelente disco enraizado no melhor que o rock progressivo e/ou artsy oferece (jams psicadélicas, teclados cósmicos, ritmos quase tribais) aliado à energia e repetição do punk. Ninguém ouvirá os Starring em 2012, porque lerão o título do sucessor de Wife Of God e pensarão "foda-se, que idiotice, não vou ouvir esta merda", independentemente de, possivelmente, reconhecer e achar piada à referência - as letras dispostas de forma a lembrar a cadência da conhecida lenga-lenga infantil.
Infantil é igualmente a forma como os norte-americanos vão colando peça ante peça nas suas composições - e não, este adjectivo não é utilizado pejorativamente. Em "The Best", por exemplo, de um momento absolutamente freak out passamos para uma voz feminina semi-embriagada a cantar o êxito de Tina Turner com o mesmo nome. A capacidade para o corte e cola sem medos, para experimentar e improvisar, aliado a algo que falta em demasia a muita da música de hoje - a imprevisibilidade - faz de ABC... um dos melhores discos prog do ano e ponto obrigatório para quem nunca ligou sequer ao género.
Ainda que, como no disco de 2010, os Magma nos saltem demasiado à frente, embora isso não perturbe uma audição satisfatória até porque os Franceses são das melhores bandas de sempre, ABC... é coeso o suficiente para se revelar uma belíssima surpresa. "Ie" poderia ser fruto de uma M.I.A. que descobriu o Rock In Opposition; "Aphonia" revela de forma abrupta - após a mui kösmiche "---Ooo" - o lado mais rock n´roll vertiginoso da banda de Brooklyn, com um riff simples e directo repetido à exaustão. Infantilidades à parte, é um belíssimo disco de uma banda que precisa de mais amor.