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Filipe Felizardo Guitar Soli For The Moa And The Frog

2012
Shhpuma


Primeira edição da recém-criada editora Shhpuma, Guitar Soli For The Moa And The Frog é um disco cuja sonoridade provoca, e é criada a partir da, contemplação e reflexão. Todo ele construído à base de laivos de guitarra, praticamente sem efeitos ou outras distracções, Guitar Soli... é quase como um ser vivo: caminha, pausa para respirar e para se alimentar, prossegue a viagem pela rota do blues cósmico; o silêncio, aqui, é utilizado ele próprio como se fora um instrumento, mostrando-se tão importante como as frases que vão eclodindo dos dedos de Filipe Felizardo.

É um modus operandi que se traduz num belíssimo disco. Contando uma história através de oito faixas, que serão melhor apreciadas lendo as liner notes do CD de forma a poder construir paisagens imaginárias auxiliadas pela música, Guitar Soli... vive não da tensão entre o silêncio e o som, como por vezes acontece neste género de abordagens, mas da simbiose. Quando a música trava, a ausência toma forma; quando regressa, fá-lo de modo gentil e não abrupto, preenchendo esse vazio como um pulmão se enche de oxigénio. Reside aqui a sua maior força, esta conjugação entre dois mundos à partida distintos - mas, ao invés da citação que diz que a escuridão é a ausência de luz, em Guitar Soli... o silêncio não é de todo a ausência de música.

Parece ser sobretudo o amor pela guitarra, eléctrica ou acústica, como em "Of The Excrement And The Frog", o alvo principal do pensamento que levou à composição deste disco, por ser um objecto de ligação entre o homem e o que o rodeia, quer a terra quer o cosmos; é a pena com que Felizardo, em modo poeta, redige os versos de Guitar Soli For The Moa And The Frog de forma eficaz e que preencherão a alma dos leitores que se aventurarem. Está aqui um dos mais belos "discos de guitarra" que ouviremos em 2012.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
27/06/2012