Para o bem e para o mal, o black metal evoluiu, já não se cingindo inteiramente ao lado mais underground da cena metálica, tendo encontrado e adoptado novas sonoridades e técnicas de produção, expandido o número de apreciadores do género. Escusado será encontrar um culpado - quer tenha sido o teatralismo dos Dimmu Borgir e dos CoF há uns anos ou a nova vaga hipster -; antes, há que constatar que este crescimento é natural. Nenhum género se resigna a uma facção minoritária por muito tempo, até porque precisa constantemente de se revitalizar para se manter à tona. Daà que alguém como Fenriz tenha alterado o rumo dos Darkthrone do BM sujo para o crust; daà que o próprio Varg já não tenha no lo-fi uma estética a seguir. Tanto num caso como noutro a alteração deve-se à necessidade de injectar sangue novo, remodelar-se artisticamente.
O que pode resultar em algo que, sendo sempre inesperado, por vezes é igualmente fatal. Fallen não era o melhor dos discos de Burzum - apenas o melhor desde a saÃda da prisão - sendo que era um registo que mostrava um projecto renascido e esteticamente longe do black metal da década que o viu nascer; as guitarras ouviam-se limpas, os vocais eram cada vez mais um cântico pagão ao invés de um grito, continuando apenas reconhecÃvel a toada hipnótica por debaixo do riff. Em Umskiptar Vikernes prossegue esta mesma linha de criação sem desvios, o que acaba por alimentar algum desinteresse. "Jóln" e "Alfadanz" ainda conseguem dar um pouco de continuidade à s experiências certeiras do seu predecessor, apoiando-se no fuzz como criador de tensão, mas o restante ergue-se sobretudo na reciclagem de riffs e, até, numa certa abordagem à ideia de folk nórdica: ouça-se a insÃpida "Gullaldr", que dura dez minutos a mais do que deveria. Umskiptar não ficará para a história como o disco mais desinspirado de Burzum, cabendo essa honra à s experiências ambientais de Dauði Baldrs e Hliðskjálf, mas essas, pelo menos, tinham desculpa. Ainda assim, estes três anos do novo Burzum têm-se revelado frutÃferos o suficiente para que a mÃstica associada ao projecto não se desvaneça com o surgimento das novas gerações (seja como for, isto não será assim tão difÃcil, se pensarmos que os Liturgy são concorrência). Afinal de contas tal é igualmente sinal de evolução; não foi Varg que disse que iria deixar de tocar "música de pretos"? Valha-nos que teve o discernimento de mudar de ideias.
Do outro lado da barricada estão os Drudkh, que, sob um regime de semi-anonimato (sabe-se quem são os membros, mas os mesmos mantêm o silêncio acerca da banda), se mantiveram à parte de quaisquer discussões de maior acerca da sonoridade ou da cena em que se inserem. Começaram como uma fotocópia do som Burzum - Forgotten Legends -, enveredaram por trilhos folk - Songs Of Grief And Solitude - e em Microcosmos e Handful Of Stars, os dois últimos registos, cruzaram estes dois géneros com uma vertente mais melódica, quase resvalando para o gótico. Eternal Turn Of The Wheel é um disco mais tradicional, onde o minimalismo hipnótico é substituÃdo pela agressividade das blast beats e por riffs menos exploratórios, tornando-o algo brando e sem rumo definido - se o compararmos, por exemplo, com Estrangement, que parece construÃdo de forma a desaguar na perfeição de "Only The Wind Remembers My Name" e no enorme solo de guitarra desta faixa. Ainda assim, Eternal Turn... tem os seus momentos, especialmente no segundo tema ("Breath Of Cold Black Soil"), perdendo-se depois numa mansa violência que se encontra alguns furos abaixo dos melhores trabalhos que os ucranianos já produziram. Uma audição ainda assim satisfatória e que não desilude tanto quanto o compatriota norueguês. Seremos tentados a afirmar que tanto uns como outros não passarão de relÃquias de uma ideia de black metal que já lá vai, mas sente-se, apesar de tudo, que Burzum e Drudkh ainda terão muito para oferecer ao lado dos WITTR desta vida. Aguardem-se então por maiores e melhores desenvolvimentos.