O contrabaixista Hernâni Faustino é um dos eixos do RED Trio. O grupo de Faustino, Gabriel Ferrandini (bateria) e Rodrigo Pinheiro (piano) conseguiu afirmar-se solidamente como um dos mais excitantes grupos do jazz criativo dos últimos anos e além de ter definido um som próprio – herdeiro do jazz mas aberto a contaminações, democrático e original – o trio luso mostrou-se exÃmio na colaboração com nomes grandes da cena mundial, como aconteceu com o saxofonista John Butcher (cf. Empire) ou com o trompetista Nate Wooley (cf. o recente Stem). Fora do contexto do trio o contrabaixista apresenta agora dois trabalhos, ambos em duo, onde o seu instrumento resolve confrontar saxofones.
Em Falaise, uma edição da lusa Dromos Recordings, o contrabaixo de Faustino enfrenta o saxofone tenor de Pedro Sousa – membro dos grupos ACRE, Canzana, eitr e, sobretudo, Pão (atenção ao novÃssimo disco homónimo, edição Sshpuma). Sousa e Faustino desenvolvem um diálogo improvisado áspero, revelando uma enorme urgência, numa estratégia de choque constante. Ambos os músicos servem-se de recursos menos tÃpicos – sons da respiração, uso percussivo das chaves, no caso do saxofone; utilização original do pizzicato e do arco, no caso do contrabaixo. Em qualquer dos casos, os músicos procuram os sons que façam a música evoluir e, sendo o caminho por vezes radical, interessa mais que tudo o resultado final – os processos ou pormenores fazem parte do percurso. Urgente, ainda que não sempre bruta, a música da dupla Sousa/Faustino é intensamente acesa ao longo das suas quatro peças.
Domino Doubles, edição da label turca re:konstruKt, mostra Faustino na companhia dos saxofones de Heddy Boubaker. Com o multi-instrumentista francês Faustino serve-se da uma estratégia comunicante - semelhante ao disco anterior, mas com resultados distintos. Sendo também um diálogo improvisado, este revela uma maior contenção e tranquilidade – contrastando com a postura predominantemente agreste de Falaise. Esta será uma música aberta, mais ampla, mais espaçosa, mais madura - mas também menos incendiária. Importa sobretudo registar que, independentemente do contexto, podemos contar com um Faustino incessantemente imaginativo.