Desde há muito tempo que o músico, compositor e produtor australiano Anthony Pateras colabora com o cineasta, amigo e conterrâneo Eron Sheean, tendo criado bandas sonoras para algumas das suas curta-metragens. Errors of the Human Body (2011) é a primeira longa-metragem de Sheean e a respectiva banda sonora torna a ser da autoria de Pateras, entretanto editada em disco com o selo da Editions Mego de Peter Rehberg.
O que mais impressiona ao longo das 21 faixas (de curta duração) deste disco admirável é a forma como Pateras conjuga o paradigma da instrumentação clássica (sopros, cordas, percussão) com elementos electrónicos e experimentais. Resultando em breves e sublimes trechos de música telúrica – plena de ansiedade, mistério, assombração – que faz revolver as entranhas.
Há ecos de There Will Be Blood (2007), a banda sonora que Jonny Greenwood (guitarrista dos Radiohead) compôs para o filme de Paul Thomas Anderson, ou de Meek’s Cutoff (2010), que Jeff Grace criou para o pós-western de Kelly Reichardt. Filmes e bandas sonoras que, por sua vez, remetiam para a memória de Days of Heaven (1978), por Terrence Malick e Ennio Morricone, respectivamente.
O filme de Sheean é um ensaio de ficção cientÃfica distópica em torno da biogenética, daà a música de Pateras soar mais fria, bizarra e sofisticada do que as referências anteriores: Greenwood, Grace e Morricone. Mas partilham a força telúrica, a sensação de medo e estranheza, as catarses sensoriais, o forte poder de sugestão imagética.
Após alguns discos que passaram mais ou menos despercebidos, inclusive uma edição na portuguesa Sirr (Chasms, 2007), que Errors of the Human Body (Editions Mego, 2012) obtenha a merecida atenção e consagre Pateras como um dos mais estimulantes compositores da actualidade.