Julia Holter estĂĄ no quarto, Ă janela. Agora deita-se numa cama que Ă© uma espĂ©cie de mapa mundo das suas mĂșsicas; hĂĄ um retalho reservado para a mĂșsica pop, outro para a mĂșsica erudita, outro para o jazz, outro para a folk e ainda outros que nĂŁo conseguimos ver porque Holter estĂĄ em cima da manta. E cobre-se com ela.
Ekstasis Ă© o cĂ©rebro de Julia Holter dividido em gĂ©neros descarregados directamente para as suas cançÔes. De uma forma aleatĂłria o suficiente para a surpresa se ir renovando, organizada o suficiente para que tudo isto nĂŁo pareça uma enorme salada de frutas. âThis is Ekstasisâ, fazendo justiça ao nome, Ă© uma espĂ©cie de mapa deste disco; uma extensĂŁo Ă©pica de quase nove minutos onde cabe tudo e mais alguma coisa: batidas dos anos oitenta, teclados da mesma Ă©poca, um violoncelo soturno, um saxofone e um contrabaixo no mesmo tom. Um regalo para os sentidos.
Mais do que lembrar alguĂ©m como Laurie Anderson, Julia Holter lembra alguĂ©m que se recusa a aceitar os limites da mĂșsica pop. Ekstasis Ă© um disco de cançÔes; mas Ă© ainda mais um disco acerca de sobreviver Ă s mesmas. âIn the same roomâ pode ser a mais directa porta de entrada de Ekstasis mas estĂĄ longe de ser a mais recompensadora: este Ă© um terreno para ir descobrindo sem pressas. Com o tempo de outros tempos, mas com a urgĂȘncia de agora.