Será melhor falar já nisto antes que seja corrompido pelo hype. Assumimos, claro, que os C(u)ore & Colours serão vÃtima do dito, porque, francamente, se tal não vier a suceder é sinal de que a Internet tem as suas prioridades trocadas. Este homónimo EP de estreia consiste em quatro canções talhadas à foice, o sampling como base para a criação pop e um olho na experimentação psicotrópica alemã a que vulgarmente se chama krautrock a completar o manto.
E tudo isto via um excelso bom gosto: Phil Collins, Velvet Underground, Can. Como se andassem constantemente de estação para estação de rádio, dando-o a entender os ruÃdos de um aparelho a ser sintonizado ou os próprios nomes das canções. A enorme "Venus In Furs" tem em "Rewind" o mesmo efeito que, por exemplo, os Rallizes tiveram em "A Hundred Highways", de Dirty Beaches: conjuga-se tão bem com a nova roupagem que leva, qual mash-up ou karaoke esquizofrénico, que se julgaria não ser sequer um sample. "Stop" e "Forward" apenas confirmam a boa estreia de José Silva e Manuel Guimarães nestas lides.
O melhor, por ser o melhor, tem naturalmente de ficar para o fim, mesmo que esteja em segundo. "Start", que vai buscar a bateria de "Mushroom", dos Can, aliando-se depois à guitarra e à s teclas, apresenta-se como uma verdadeira epifania pop, a qual não esperarÃamos assim tão cedo. Canções há que batem à primeira e que nos maravilham de imediato: é o caso. Os próprios já disseram que nos queriam fazer dançar - e "Start" fá-lo -, não contavam, se calhar, é que nos apaixonássemos. Ou, então, é a frase She's just like the water que encontra uma familiaridade demasiado próxima com um determinado avatar. O amor, em loop.