Aos primeiros minutos, Tramp mostra desde logo que é muito mais do que aquilo que aparenta ser. Mostra, quanto mais não seja, que ao terceiro disco, Sharon Van Etten chegou ao ponto de ebulição: não quer dizer que não possa chegar mais além, mas chegou muito certamente a um ponto onde se espera muito de cada conjunto de canções que entenda resolver por agora na sua cabeça e entregar ao mundo de forma acabada. Ou perto disso. Não fosse a música para Sharon Van Etten uma espécie de auto-terapia.
Tramp, produzido por Aaron Dessner dos The National, é um disco de canções muito bem apuradas esteticamente mas suficientemente livres para não parecerem fruto de demasiada ponderação. Apesar de ser um disco imaculado na produção e nos arranjos, Tramp é um disco onde se nota a presença de uma certa inquietude; um disco onde as canções gozam de uma determinada qualidade daquilo que ainda está por terminar. Talvez porque Sharon Van Etten vai deixando uma parte de si em cada disco, porque o envolvimento emocional que dedica a cada conjunto de canções tem um limite auto-imposto.
Tramp Ă© um disco onde as canções sĂŁo mais do que parecem ser e, no entanto, ainda nĂŁo sĂŁo tudo aquilo que podem ser. E essa ânsia move e motiva. É certo que “Serpents” Ă© a canção mais forte de Tramp, mas tambĂ©m Ă© verdade que existe em toda a sua extensĂŁo, para alĂ©m de uma beleza indesmentĂvel, uma qualidade difĂcil de explicar mas nem por isso complicada de absorver. É uma questĂŁo de canções de guitarras - tanto elĂ©ctricas como acĂşsticas - com poesia e alguma magia. Há alguma coisa no ar. Ao terceiro disco, Sharon Van Etten dá um chega para lá nos seus pares – ouvindo o disco Ă© fácil identificá-los – e diz: cuidadinho que eu tambĂ©m estou aqui.