LJones era apenas um canadiano anónimo como muitos outros. Um dia, quando ainda adolescente, ouviu as produções do genial Nujabes (descansa em paz, Jun), juntou dinheiro em empregos part-time e comprou uma MPC. Desde então, tem aprendido a arte do beat e chega-nos aos ouvidos em 2012 com o lançamento de um disco-barra-mixtape instrumental na tradição do gigante japonês: treze malhas onde cruza as melodias relaxantes da soul e do jazz com o ritmo do hip-hop. Soul Below não tem pretensões a ser nada mais do que uma bela audição, quer nos concentremos a ouvi-lo, quer nos limitemos a tocá-lo como pano de fundo durante os afazeres diários.
Até porque as malhas aqui inseridas não possuem um seguimento linear que nos prendam por inteiro a atenção; o disco é uma compilação de temas que LJones compôs entre 2009 e 2011. "Introductions", que contém os ruÃdos de uma agulha a raspar no vinil por entre piano, contrabaixo e guitarra, abre Soul Below lembrando-nos o aspecto primordial da sua música - o jazz de outrora a escrever o presente de hoje. O groove vai entrando aos poucos pelos ouvidos e assume a sua forma terapêutica rapidamente: "Cruising Blue", a melhor faixa do álbum, é coisa para curar qualquer ferida.
Ao longo dos cerca de quarenta minutos de duração do disco - e temos obrigatoriamente de fazer esta comparação, já que o próprio LJones assume, e muito, a sua influência - o espÃrito do homem que criou o magnÃfico Metaphorical Music (ainda hoje um dos melhores álbuns [de hip-hop] de sempre) está bem presente. Ouça-se "ArtOfficial Stawberries", "Feelings, Mutual" ou a homónima "Soul Below", para dar alguns exemplos. Mas não é só Nujabes que é homenageado neste caldeirão - uma remix de "It Ain't Hard To Tell", de Nas, encerra o disco da mesma forma que a original o faz no clássico Illmatic. LJones não se destaca do seu padrinho musical, mas pelo nÃvel que mostra, isso não se torna relevante. Também existe qualidade na contrafacção.
Se fôssemos a Oxigénio, dirÃamos que Soul Below é um bom conjunto de canções para respirar. Para já deixamos o nosso elogio a LJones, produtor jovem com ainda muito espaço para crescer. E, claro, agradecer-lhe por disponibilizar o disco de graça. Pode ser sacado no bandcamp da Cult Classic Records e, dada a sua natureza instrumental, não seria de todo tolo pensar que alguém mais corajoso se possa atrever a adicionar-lhe voz aqui ou ali. Deixamos esta sugestão para os rappers igualmente anónimos que queiram arriscar dois ou três versos por cima destes beats.