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Matt Elliott The Broken Man

2012
Ici, d´ailleurs...


Prolífero como habitualmente, o britânico Matt Elliott regressa aos álbuns este ano com o alegremente intitulado The Broken Man, um registo mais fraco do que os esforços anteriores do também chamado Third Eye Foundation, em particular quando comparado com a trilogia cançoneteira (Drinking Songs, Failing Songs e Howling Songs). Assente na mesma melancolia violentamente deprimida do costume, The Broken Man escapa às diversificações introduzidas por Elliott em ocasiões como “Bomb the Stock Exchange”, a última faixa de Howling Songs, que, não sendo particularmente animadora, apostava numa maior variedade de tonalidades para além das escolhidas aqui.

“Dust Flesh And Bones”, o destaque evidente e imediato do álbum, parece maior nas primeiras escutas do que o que é na realidade, fazendo com o que o disco se dissipe a pouco e pouco, à medida que ela perde relevância, desencontrada no vazio da repetição, que já pouco significa, quando se conhece a voz que nos fala: “This is how it feels to be alone”.

Nos trabalhos anteriores havia sessões de descontrolo pontuais, havia momentos de libertação dos espartilhos impostos pelo género escolhido por Matt Elliott, num cruzamento de "folk" com electrónica, normalmente interessante, raramente aborrecido, quiçá repetitivo, mas que, para o fã, era o esperado, o necessário, a chegada daquele consolo com o qual sabemos poder contar. Não há nada disso em The Broken Man. Há lamúrias. Apesar de um dos melhores títulos de canções de Elliott se encontrar neste álbum (“If Anyone Tells Me "It´s Better To Have Loved And Lost Than To Never Have Loved At All", I Will Stab Them The Face”), a força que uma mensagem assim requer não está lá. Talvez seja o cansaço inerente ao ser triste a tomar o seu rumo, mas fazem falta letras como “We´ll batten down beneath the waves/And talk and laugh and lust for days/Even Saint Nick would turn his face/This fucking ship is lost again”, também de Howling Songs.

Produzido pelo anódino Yann Tiersen, é como se os piores medos de quem sempre ouviu Matt Elliott se tivessem concretizado. Diz a editora Ici d´ailleurs que “o ruído furioso se desvaneceu, deixando espaço para melodias mais frágeis e para uma abordagem mais subtil à intensidade para envolver o ouvinte”. Isto seria muito bonito, se não quisesse dizer na prática a queda no banal, que Elliott nunca, nunca, mas nunca antes foi.


Tiago Dias
tdiasferreira@gmail.com
07/02/2012