O início da parceria entre o trio Medeski, Martin & Wood com o histórico guitarrista John Scofield remonta a 1998, quando o trio colaborou no disco A Go Go. Contudo, só na década passada é que a ligação foi oficializada, em 2006, com o lançamento do álbum Out Louder e a significativa mudança no nome do grupo para “Medeski, Scofield, Martin & Wood” (MSMW). Na sequência natural desse disco, este novo In case the world changes its mind é um objecto de peso, um álbum-duplo gravado ao vivo, que vem confirmar a solidez de uma das mais dinâmicas parcerias do jazz mainstream contemporâneo.
Há cerca de cinco anos, quando o quarteto passou por Paris para uma apresentação à imprensa europeia, tivemos oportunidade de falar com os músicos, que confessaram que a vontade de colaborar em conjunto já vinha de longe. O baterista Billy Martin explicou que esta foi a primeira vez que trabalharam numa verdadeira colaboração: “No passado chamámos o Marc Ribot, o John Zorn, o Marshall Allen ou o DJ Olive para esta ou para aquela música específica - chamávamos alguém que encaixasse na atmosfera de uma música. Neste caso reunimo-nos para fazer um disco como quarteto. É uma abordagem completamente diferente”. A parceria também era desejada por Scofield: “Sempre adorei a maneira deles tocarem e sempre quis encontrar pessoas que tocassem assim, que fizessem as coisas que eles fazem.”
Se Out Louder, o primeiro disco do quarteto MSMW, evidenciava já uma óptima ligação entre os músicos, este novo álbum é um passo mais além. Esta espécie de “super-grupo” mostra agora a experiência acumulada da estrada, além de uma abordagem menos controlada, mais expansiva, natural da experiência “ao vivo”. A secção rítmica é de uma extrema estabilidade e eficácia, numa ligação quase telepática entre o baixo de Chris Wood e a bateria de Billy Martin. Os teclados de John Medeski são um festival por si só, pela forma intensamente enérgica como explora cada tema, particularmente nos espaços abertos para solar.
Já a participação do guitarrista Scofield - relembre-se, um dos grandes, nome cimeiro da guitarra jazz da actualidade, tendo colaborado com gente como Pat Metheny, Jaco Pastorius e Miles Davis – não fica limitada à condição de “convidado”. A guitarra de Sco não faz de estrela, ocupa um papel como qualquer outro, não fica escondida, está quase sempre presente e interlaça momentos de diálogo criativo com os teclados (especialmente o órgão Hammond B3) de Medeski. Quarteto democrático, de espaço partilhado, este MSMW desenvolve um jazz clássico com uma dimensão orgânica assinalável.