CARTA ABERTA AOS PASSOS EM VOLTA
Caros Passos em Volta e Cafetra no geral:
Eu peço desculpa.
Desculpem só ter ouvido este disco a meio de dezembro, quando os topes já estavam feitos e redigidos e eu não podia enfiá-lo assim, à bruta, no meio dos outros. Claro que isso não é uma razão que se apresente: eu já deveria saber, à partida, que seria um excelente disco, e, mesmo sem o ter ouvido, devia tê-lo colocado para aí em 13º ou 14º, que são posições que dão cred a um disco, porque mostra que este é bom o suficiente para estar em lugares de top mas sem cair no hype geral habitualmente reservado aos que entram no top 10.
Desculpem não ter comprado este disco quando estive na Fnac na semana passada e ele estava lá em destaque, mesmo tendo achado o preço uma pechincha e tendo - acho - pontos no cartão para descontar. Desculpem ter sacado um .rar manhoso, ripado do vosso Bandcamp, para poder ouvi-lo no leitor de mp3 quando saio à noite e vou para a linha férrea gritar Ó SÓCRATES, VAI P'RÓ CARALHO, enquanto os militares do complexo em frente dormem sossegados.
Desculpem não ter estado no concerto do R. Stevie Moore quando abriram para o mesmo, algo que, pela influência que presumo que o gajo tenha na vossa forma de fazer as coisas, seja um dos pontos altos da vossa ainda curta mas já tão grande existência. Desculpem o facto de que, antes deste disco, conhecia apenas três canções vossas, e desculpem o facto de não saber se já tinham mais, mas é que só conhecia o que estava na Granda Compilação! e na mixtape dos Filhos do Diabo. Desculpem não ter tido curiosidade para ter pesquisado ou perguntado por mais coisas.
Desculpem a miséria existencial que é este texto, mas ao contrário da malta do i e dos jornalistas do Ípsilon, eu não sei escrever sobre música; pior, quando se trata de bandas como vocês, não consigo escrever de uma forma minimamente séria, porque aquilo que eu capto é que vocês próprios não se levam a sério, e é por isso que são tão geniais e merecedores de ser avaliados de forma séria. Desculpem estar a entrar agora em paradoxos circulares que nem eu próprio alcancei. Desculpem estar a assumir coisas sem saber, sem vos conhecer. Desculpem os quatro parágrafos de palhaçada que acabo de escrever, mas hoje tinha de entrar uma review, e o único disco que eu tenho ouvido, para além dos que vou percorrendo no interminável Rip It Up And Start Again, é o vosso.
Desculpem ainda não ter falado propriamente do disco. Desculpem ainda não ter dito que adoro o next! no final da "De Repente Ele Aparece Todo Nu Só De Botas", porque o acho absolutamente genuíno e próprio de quem se está nas tintas e compõe por gosto. Desculpem utilizar a expressão "genuíno". Desculpem ainda não ter escrito que a "Wella", a "PeteSar", a (São) Nicolau Breyner" e a "Fetra" são canções do caraças. Desculpem ainda não ter mencionado a boca genial ao B Fachada na "Pizza E Garrafa De Vinho". Desculpem ainda não ter dito que Até Morrer é um dos melhores discos nacionais do ano passado e que acho que a Cafetra vai dominar 2012.
Desculpem achar que, ainda assim, trinta minutos é pouco para um disco. Mas se calhar é por isso que é bom.
Desculpem a minha insistência estúpida em vos taggar como "lol-fi" no last.fm.
Desculpem ainda só ter ouvido isto em 128kbps.
Obrigado e um bem-haja,
Paulo André Cecílio
CARTA ABERTA AO ALLEN HALLOWEEN
Caro Allen Halloween:
Pá, és um liricista do caralho, mas Como é que te sentes? / Hoje não foste ao liceu / Eu fodi a tua irmã e ela gemeu é o melhor verso de 2011. Sim, já conheço a "Drunfos", a "Não Há Luz No Meu Quarto" e a tal dos morangos e Floribelas na campa do botas. Desculpa lá. Cumps.