Como se atravessássemos um bosque, somos invadidos por cheiros e tonalidades, o vento bate-nos na face e galhos estalam Ă nossa passagem. Tal como a Natureza se apresenta em constante mutação, com plantas a nascer, folhas a cair, dias que aumentam ou diminuem, estas mĂşsicas ora anunciam a chegada da Primavera, ora carregam prenĂşncios outonais. Chromatic Ă© um tĂtulo que assenta como uma luva a esta estreia: estamos perante uma paleta de cores, cheiros e texturas. Uma pop/folk complexa nos ingredientes utilizados mas que resulta em canções que comunicam facilmente aos ouvidos e Ă s emoções. A criatividade e o apurado sentido estĂ©tico que por aqui andam de mĂŁos dadas nĂŁo se perdem em exercĂcios de show off nem em demonstrações de virtuosismo pueril – estĂŁo ao serviço das canções, como deve ser.
Cruzam-se elementos orgânicos (guitarra acústica e outras cordas, palmas) com electrónica, como noutros projectos contemporâneos – já ouviram de certeza as comparações, mais ou menos certeiras, com Fleet Foxes ou Grizzly Bear, por exemplo –, mostrando mais uma vez como as barreiras entre o digital e o analógico fazem cada vez menos sentido, sendo ambos meios ao serviço das canções e não um fim em sim mesmo. Mas este projecto tem uma identidade própria, apesar das referências que, como é natural, se podem ir buscar, aqui e ali.
Nota-se tambĂ©m uma assinalável coesĂŁo. Tal como numa equipa, o valor do colectivo sobrepõe-se Ă soma das partes ou dos talentos individuais. NĂŁo Ă© que lhe faltem canções memoráveis. “Green Grass #1” Ă© belĂssima, todos os elementos trabalhados de forma cuidada sobre o tapete sonoro; e “I´ve Been Lost” (fusĂŁo perfeita entre as palmas, a voz e a bateria nervosa) ou “An Ending” sĂŁo outros grandes momentos. Mas o disco encarado como um todo sobrepõe-se Ă s faixas isoladas, o que sĂł o valoriza. Uma estreia destas nĂŁo sĂŁo peanuts. Estamos na presença duma vitĂłria em toda a linha para os amigos do Charlie Brown.