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Azari & III Azari & III

2011
Loose Lips Records


Apesar do grupo ser canadiano, a imagem da capa apresenta uma mão a agarrar o que parece ser o Empire State Building, de Nova Iorque. E agarrar é um sentimento chave na música dos Azari & III. Agarrar no sentido do inglês “seizeâ€, do latim “Carpeâ€. “Carpe Nocteâ€, dir-se-ia. E para tal, não deixam nada ao acaso. A formação de quatro elementos percorre diversos caminhos de eficácia comprovada no que à música de índole dançável diz respeito. E fá-lo com mestria assinalável, criando fluidez onde outras mãos menos hábeis poderiam provocar quebras de corrente e de momentum.
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Se formos pelo caminho simples de dividir o disco homónimo dos Azari & III em músicas cantadas e não cantadas, será difícil não atentar nas comparações com os Hercules & Love Affair. As heranças do disco e da house são notórias, bem como as prerrogativas antémicas de músicas como “Hungry For The Powerâ€, “Undecided†ou “Reckless (With Your Love)â€. A diferença estará, porventura, na maneira inebriante, sem quaisquer resquícios arty com que os Azari & III se movimentam. Apesar da letra caucionária, “Reckless (With Your Love)†é uma autêntica bomba de pista, repleta de pianos house, baixos sintéticos, sirenes implodidas e heranças dos anos 90. “Hungry For The Powerâ€, essa, exibe-se em cânticos mergulhados num techno absorvente que convida a um agradável fechar de olhos sem parar a dança.

Mas seria deveras injusto limitar “Azari & III†apenas às faixas cantadas. Por aqui passa electro pontilhado (“Tunnel Visionâ€), baixos capazes de sugar e expelir todos os instrumentos em volta, percussão de tons secos, viagens technóides (“Infinitiâ€), tribalismo metálico, e até mesmo algo de industrial em “Manhookerâ€. Em praticamente todas as músicas, a base criada é encimada por frases simples de sintetizador que nunca deixam escapar o groove, movimentando-se como píxeis por pontes suspensas, que ora abaulam, ora ajudam a trepar. Tudo encaixado com precisão relojoeira, a impedir o ritmo de se esbater por um minuto que seja.

A vida do leigo em música de dança não é fácil. Sabemos que, por cada álbum completo a que deitamos a mão, já muitos singles de tiragem limitada estarão a antever o futuro e a ser glosados em fóruns da especialidade. Mas talvez isso seja outra razão para desfrutar devidamente de discos como “Azari & IIIâ€. Encaremos a sua existência como se, por uma de não tantas vezes como isso, tivéssemos a caderneta completa. A equipa e o campo de Subbuteo prontos para um jogo como deve ser. E francamente, é preciso ser muito picuinhas para levar a mal. Discos desta qualidade devem servir para unir.


Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
02/11/2011