Para enquadrar a heterogeneidade musical presente num álbum onde parecem coabitar vários discos torna-se necessário (re)lembrar que este projecto – que resgata o seu nome ao conceito dos doze apóstolos mais Jesus Cristo, um grupo de 13 membros que forma uma relação simbiótica com Deus – resulta de uma parceria entre membros dos norte-americanos Themselves (que fazem hip hop underground) e dos alemães The Notwist, que se movem nos territórios do electro-pop experimental.
Se tal nĂŁo servir para ultrapassar alguma da estranheza que advĂ©m da improvável conjugação de elementos – exemplo: o registo melodioso de Markus Archer com a voz nasalada (por vezes mais parece insuflada a hĂ©lio) de Adam “Doseone” Drucker – ajudará, pelo menos, a compreender melhor este conjunto de mĂşsicas que em certas ocasiões começam de uma forma quase linear para irem ganhando camadas de elementos e complexidade. Um dos casos mais flagrantes desta dicotomia será “Armored Scarves”, que começa nas calmas mas vai crescendo, crescendo, com Archer a insistir que «These are troubled times and so / So you dip your scarves in iron» e a percussĂŁo a marcar um ritmo de marcha militar, antes de “Doseone” entrar em cena e disparar num flow que se cruza com outras vozes. “Beat On Us” tambĂ©m se introduz na linha daquela para depois cruzar folk e electrĂłnica. Embora predominem sonoridades densas – na linha de “Unyoung”, construĂda sobre um forte beat e vozes sobrepostas em camadas sonoras hipnĂłticas, ou o quase trip hop de “Et Tu” – há lugar para temas com uma estrutura mais leve, como a soalheira “Old Age”, a puxar para a pista de dança, ou a atmosfĂ©rica “Death Minor”, que remete para o lado mais etĂ©reo dos Air.
Quem sofrer de paranĂłia com rĂłtulos vai sentir-se perdido num labirinto de referĂŞncias e sonoridades que podem parecer inconciliáveis; mas quem tiver abertura suficiente para montar as peças nos ouvidos e no espĂrito vai apreciar este puzzle, que se pode montar, baralhar e voltar a juntar audição apĂłs audição, processo ao longo do qual a riqueza suplanta a desconfiança e o pendor existencialista das letras se vai tornando mais e mais perceptĂvel.