Tudo ramifica em “West End Girls”, o single que encarreirou os Pet Shop Boys para uma ilustre carreira que já ultrapassou as bodas de prata. Recordemos o som de sopros sintetizados dessa mĂşsica, o ambiente de espionagem Ă 80s, o modo como Neil Tennant completava cada verso, como mudava o tom da voz do prĂ©-refrĂŁo para o pronunciar do tĂtulo da canção propriamente dita. Nessa obra-prima concentrava-se tudo o que interessa na synth-pop. Por mais que bandas como os Metronomy tentem fazer crer que tudo se pode resumir a um equivalente lo-fi, Ă© nas obras como os meios ou a mania das grandezas que este gĂ©nero atinge o seu zĂ©nite.
TĂŞm os Ladytron os meios apĂłs 12 anos de carreira? Deviam, mas nĂŁo tĂŞm. TĂŞm a mania? Muito provavelmente. E assim, continuam a fazer discos que passam despercebidos quando deviam ocupar os lugares cimeiros das tabelas ao lado de gente talentosa como os La Roux. Merecem-no porque aprenderam a lição certa dos Professores Tennant e Lowe. Tudo gira Ă volta de como se torce o botĂŁo da melodia aquele niquinho mais para o lado. Helen Marnie e Mira Aroyo sabem fazĂŞ-lo tĂŁo bem, que aquilo que devia ser linear, ou seja, a saĂda de ar da boca, parece nĂŁo ter limites e funcionar num modo cĂ´ncavo. NĂŁo se está a falar em melismas nem nada parecido. Fala-se de dar Ă mĂşsica exactamente o que ela precisa. O equivalente a uma guitarra e voz numa canção de blues.
De exemplos está “Gravity The Seduc er” cheio. Por exemplo, nos arranjos Ă John Barry de “White Elephant”, no falso Ă©pico de “White Gold”, na perfeição reluzente de “Ace Of Hz” (ao nĂvel de uma “International Dateline”), na marcha de “Ah aaaaahs” de “Ambulance”, ou na dançável “Melting Ice”. Cada uma destas canções contem fraseados melĂłdicos que, tal como uma boa “punchline” no hiphop, abrem os olhos para que repitamos na nossa cabeça aquilo por que acabámos de passar. A acompanhar as vozes, os sintetizadores, ocasionalmente acompanhados de bateria, de Reuben Wu e Daniel Hunt, ora caminham por pontes suspensas, ora fazem de prisma, de espelho, de cristal ou se distorcem. Mesmo quando sabemos que nĂŁo sĂŁo os instrumentos a que pretendem soar perdoamos-lhes, porque encaixam lindamente na mĂşsica.
E agora a parte confessional. “Gravity The Seducer” não é o melhor álbum dos Ladytron. Essa honra continuará a pertencer a “Witching Hour”. Existem falhas no disco, como a instrumental “Transparent Days”, ou a semi-declamada “Altitude Blues”. É nos pontos altos que me quis focar por uma razão simples. São pontos pelos quais esta banda merece todo o destaque do mundo. Na próxima chuva de estrelas cadentas, estejam atentos. Quem sabe se entre a queda de duas, não se ouvirá algo tão simples como “The East End boys and West End Girls”, ou então “My iceberg of trust”.