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Clam Casino Rainforest EP

2011
Tri Angle / Flur


O adjectivo "progressivo" adora aparecer antes de todos os géneros musicais. Ele é progressivo isto, progressivo aquilo. É como o prefixo "pós". Adora aparecer antes de rock, por exemplo. Mas voltemos ao progressivo. E que se juntem o hip hop. Esta definição - hip-hop progressivo - tem ganho forma, e define muito do som que provém da Tri Angle, casa-mãe de um dos cabeças do género, Balam Acab. Na companhia de oOoOO, são nomes deste suposto movimento, suposto, porque no fundo a melhor definição que já li sobre esta música é "not-quite-hip-hop", ou seja "não-é-bem-hip-hop". Exactamente o que é este primeiro disco de Clams Casino com selo de editora.

São cinco temas que nos fazem mergulhar numa floresta densa de beats hip-hop com roupagens que estamos habituados a ouvir em discos de Boards of Canada. Sem ouvir, só com esta descrição, o meu apetite já estaria aguçado, mas ouvindo, não fico nada desiludido. E se a espaços os beats levam com avalanches de wall-of-sound como Burial fez tão bem num passado próximo, Clams Casino adiciona-lhes toques saborosos de "chillwave".

Uma mão cheia de temas que conseguem criar sem dúvida paisagens sonoras apetecíveis. "Natural" podia ser Burial com Four Tet num dia menos depressivo. "Treetop" um novo single de BOC. O maravilhoso "Waterfalls" é chillwave até aos poros, com a dicotomia batida e voz a fazer-nos imaginar John Maus remixado por Balam Acab. "Drowning" paira espectral com o fantasma de James Blake e perdoem-me a expressão, aguenta-se à bomboca nesse braço de ferro entre universos. James não desdenharia esta tapeçaria de loops. No tema final, "Gorilla", "hip-hop" num "feeling" "shoegazer". Tantos estrangeirismos para definir o que não é fácil de definir mas é fácil e saboroso de ouvir para quem goste mais de IDM do que hip-hop.


Nuno Leal
nunleal@gmail.com
06/10/2011