Cada álbum de dEUS Ă© uma oportunidade renovada para apreciar o raro sentido poĂ©tico – e estĂ©tico – de Tom Barman. Na introdução da faixa-tĂtulo, com que arranca o álbum, orquestrações antecedem a sua voz, que cantará o jogo de espelhos que sĂŁo as relações amorosas, temática recuperada em “The End of Romance”. Pressente-se um isqueiro a acender entre os acordes da guitarra e a bateria suave, que servem de leito ao registo spoken word. Enquanto o belga sussurra a promessa dum mundo seguro, o piano vai deixando pingar notas, soltas como as pontas de um romance que finda. Mas nada disto Ă© real ou pacĂfico. Há nostalgia e amargura no ar.
No sexto longa-duração de dEUS cabem, tambĂ©m, composições mais directas e elĂ©ctricas, como “The Final Blast” – carregada de ritmo(s), na cadĂŞncia da voz e da bateria – ou “Dark Sets In”, em que se manifesta a costela mais rock da banda, pairando um certo negrume, com sintonia entre a mĂşsica e as palavras. Tal como sucede na dionisĂaca “Ghosts”, em que o teclado orelhudo (que se desvanece por momentos, para dar destaque ao vocalista) acompanha uma perseguição existencialista.
Do conjunto de nove faixas, o que sobressai, novamente, Ă© a belĂssima estrutura das canções. Pode ter sido a primeira vez que, com a actual formação, o processo de composição foi desenvolvido em conjunto, mas o toque de Barman continua bem vincado em temas como “Second Nature”, que se desenvolve entre prazer, vĂcios, coros e uma crescente intensidade sonora e emocional. Elementos transversais a Keep You Close.