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O Bisonte Ala

2011


O bisonte é um mamífero ungulado e ruminante, de cornos curtos, negros, curvados para cima e para o seu eixo, ombros elevados numa bossa e com uma forte cobertura de pêlos longos e cascos redondos e negros. É também uma banda de rock do Porto cujo Ala, que é o disco - ou colecção de canções soltas - de estreia levará a que se ergam alguns outros pares de cornos, aqueles a que a juventude dá expressão num concerto ao vivo, utilizando para isso as mãos.

Aqui existe peso, existem riffs, e existem as palavras; não é muito difícil pensar no fantasma de Manel Cruz a atormentar Davide Lobão, embora com mais gritaria/energia/pancadaria/todas as anteriores/riscar o que não interessa, enquanto este canta algo como reluz o síndrome e a vontade de te espancar / somos enxutos e demasiado barbudos para te alegrar. Uma declaração da própria banda, talvez? É irrelevante, mas atemoriza ao mesmo tempo que excita, como "Laia", que é a faixa de onde se retira o verso.

Naturalmente não podemos desde já colocar a carroça à frente dos bisontes. Se "Esqueleto" arranca com velocidade e agressividade, seguindo-se-lhe as muito eléctricas "Laia" e "Acácia", pontos altos, já "Imóvel" faz descer repentinamente a temperatura para o lado da balada, que uma versão de "E Depois Do Adeus" não faz por reaquecer (leia-se: a discografia dos nossos pais era uma merda e não precisamos de fingir que não). "Bandidagem!", em formato punk-com-mensagem-política, e "Matilha Dos Tristes", regresso à vertigem rock n´roll (os cabrões voltaram, vêm todos em matilha só para te ver), resgatam mas pouco. Além de que um disco de pouco mais de vinte minutos não sabe a outra coisa senão a teaser. Mas nota-se que O Bisonte sabe as fórmulas necessárias para crescer no futuro. E serve perfeitamente para por enquanto nos pôr a dar marradas ao ar.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
20/09/2011