VĂctor Afonso Ă© um experimentalista sonoro que desde o inĂcio da dĂ©cada passada tem trabalhado sob o pseudĂłnimo Kubik. É dele a autoria de dois discos que marcaram a facção marginal dos anos '00 portugueses: Oblique Musique (Zounds Records, 2001) e Metamorphosia (Zounds Records, 2005). Pelo meio editou ainda dois interessantes EPs, ambos edições de netlabels lusas: Infinite Territory (Test Tube, 2006) e How blue was my sky (MiMi Records, 2008). Nessas gravações Afonso construiu manifestos de originalidade e confusĂŁo sĂłnica, metamorfoses caleidoscĂłpicas multi-referenciais.
Com este novo trabalho Kubik mantĂ©m os pressupostos base que alimentaram os discos anteriores, mas há agora um especial enfoque Ă volta daquilo que ele se entende como “jazz” – palavra que atĂ© se encontra no tĂtulo do álbum. Os sons recortados, colados, transformados e processados por VĂctor Afonso andam Ă volta da instrumentação tĂpica que habitualmente se associa ao jazz convencional, por vezes sĂŁo usadas estruturas ou pormenores mais tĂpicos do gĂ©nero, mas o resultado vai muito para alĂ©m disso.
A estranha amálgama sonora que resulta do processo de transformação kubkiano encontra pontos de referĂŞncia em diversos gĂ©neros e sub-gĂ©neros (a sua enumeração será um delicioso e profĂcuo passatempo), mas a sua principal linguagem, poderemos aventar, será a pĂłs-modernidade: revisĂŁo de todas as linguagens anteriores e em simultâneo a sua prĂłpria (e consciente) subversĂŁo. No actual panorama musical portuguĂŞs poderemos encontrar um paralelo – estilĂstico, nĂŁo estritamente sonoro – no trabalho que o LUME – Lisbon Underground Music Ensemble vem desenvolvendo: pela inesperada junção de discursos, pelo prazer de nos fazer procurar beleza no caos. E, em consonância com a LUME, a mĂşsica de Kubik assume tambĂ©m um certo cariz cinematográfico.