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Eddie Vedder Ukulele Songs

2011


Se o primeiro álbum a solo de Eddie Vedder cheirava a floresta e correspondia a um apelo de escape à realidade urbana, Ukulele Songs corre para o mar, de forma tranquila, tal como sucedia com “Oceans”, há 20 anos. Não será por acaso que, em “Without You”, canta Sun sets upon this ocean / Never once on my devotion ou que no final de “Light Today” se ouve o barulho das ondas. Algo em comum a estes dois álbuns a solo do vocalista de Pearl Jam é precisamente a ligação à natureza: se na banda sonora de Into the Wild havia um forte vínculo à terra, as canções deste disco têm salgadiço nos poros.

Não deixa de ser curioso que uma estrela com esta dimensão se proponha a fazer um álbum quase apenas com voz e ukulele – em “Longing to Belong” acrescenta-lhe arranjos de cordas –, instrumento exótico ao seu habitat musical mas ao qual já havia recorrido numa das músicas (“Rise”) de Into the Wild.

Entre originais e versões (“Tonight you belong to me”, por exemplo, cantada a meias com Cat Power) encontram-se músicas percorridas por letras que oscilam entre a melancolia e o romantismo. São canções para a meia estação de Setembro, quando os dias vão ficando mais curtos mas o Sol ainda tem força. Não é um trabalho extraordinário, chegamos a certo ponto do disco e soa tudo um pouco ao mesmo – a única música que se distingue, pela energia extra, é “Can´t Keep”, logo a primeira do alinhamento –, talvez pelo facto de o ukulele (recentemente lançado para a ribalta, nem sempre pelas melhores razões…) não ser um instrumento muito elástico. Mas as composições surgem sinceras, delicadas, com uma certa poesia, num disco que pode ser acusado de tudo menos de pretensiosismo.


Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net
09/09/2011