Herbert Ă© uma personagem singular, genuĂna, que prima pela autenticidade e por ter definido um estilo e uma tĂ©cnica que domina por completo, com o mĂ©rito de a moldar em variados registos ou abordagens, desde o house orgânico de “Bodily Functions” Ă destruição de Dr. Rockit. Sempre com a particularidade de as suas obras se demarcarem totalmente de quaisquer outras, graças a um cunho pessoal indisfarçável e impossĂvel de confundir. Tudo isto coloca-o na linha da frente, onde estĂŁo os mĂşsicos a quem pedimos revoluções, obras-primas, talvez mesmo na linha do culto…
Herbert Ă© tambĂ©m um idealista - sonha criar um paĂs virtual (numa “inocente” utopia) regido pela imaginação e criatividade, despojado de limites e barreiras. Evidentemente, as suas obras reflectem este idealismo. Imaginou uma nova abordagem Ă s big-bands, num álbum em que o jazz (por sinal a sua escola musical) toma definitivamente o papel principal, papel esse que nos anteriores álbuns surgia mais diluĂdo.
Diz o prĂłprio autor que as suas criações surgem maioritariamente do acaso, qual geração espontânea numa mente aberta. Este projecto tem inĂcio com um pedido para a concretização de uma banda sonora de um filme de hip-hop, pedido que acaba por nĂŁo se concretizar, devido a uma mudança de opção da directora do filme. Ao invĂ©s, surgem temas associados Ă Ă©poca das big-bands. Espontaneamente Herbert imagina-se como director de orquestra: como principal obstáculo tem o facto de os mĂşsicos o olharem com alguma desconfiança, visto vir de um mundo que Ă partida poucas relações terá com o jazz. Mas essa desconfiança cedo se desvanece, acabando Herbert por conseguir que a banda toque uma musica inteira - “Fiction” - com barulhos das cadeiras e partituras, ou mesmo que as notas mais prolongadas sejam substituĂdas por cadeiras arrastadas.
Daà que esta seja uma big-band à sua maneira, com todos os seus tiques, conseguindo que os músicos se libertem de um certo sentido clássico, e lhe forneçam toda a matéria-prima sob a qual constrói, destrói, cola, descola, rompe, repara, descontextualiza as big-bands, para as recontextualizar numa dimensão electrónica.
Destaca-se a variedade sonora, nĂŁo havendo repetições de sons, ritmos sequer, numa transcendente capacidade de criação. O ambiente Ă© emotivo, lĂşdico, por vezes polĂtico, podendo rapidamente descair para o pop, do qual ainda mais rapidamente se desvia em dissipações electrĂłnicas.
Inicia-se com um voz (“here it comes”), quem sabe anunciando a chegada do elemento estranho, e rapidamente somos transportados para os anos 50, mas algo esquisito se passou no rumo natural dos acontecimentos. Os “microsons herbertinianos” viajaram no tempo, transformando a histĂłria… Uma ficção, retratada por Arto Lindsay, ritmos dementes que derivam para sons quase idĂlicos, batalhas entre saxofones, cornetas, baixos e guitarras, lutando por um lugar primordial, mas acabando em plena harmonia.
Pedaços de histĂłria longĂnquos, cortados e colados lado a lado num trabalho arrojado, inventivo, quem sabe se numa resposta aos seus seguidores (Akufen e Parnell), mostrando a extraordinária capacidade de utilizar caracterĂsticas muito especĂficas e obter uma criação verdadeiramente original.
Herbert promete uma álbum de R&B, e como será o R&B à moda de Matthew Herbert?