Há que dizer uma coisa antes de mais: Eye Contact não lembra nada nem ninguém. A estreia dos Gang Gang Dance pela 4AD (cada vez mais atenta ao que de mais fresco se vai fazendo por aÃ) consegue até a proeza de não fazer lembrar quase nada os Gang Gang Dance do anterior – e delicioso - Saint Dymphna, editado em 2008. Apetece pois dizer que existem poucas bandas como os Gang Gang Dance nos dias que correm; dispostas a tentar a reinvenção de disco para disco como se fosse a coisa mais simples do mundo. Serão os ares de Brooklyn?
Eye Contact é, resumindo e indo directo ao assunto, a insanidade em carne e osso. Bastaria “Glass Jarâ€, na sua bizarria new age a caminho de no wave, nos sintetizadores impossÃveis de imaginar ou sonhar, na forma como transformam lixo em luxo e saem com classe de um limbo fodido entre o foleiro e o formidável, para colocar os Gang Gang Dance a leste de 90% da música feita neste milénio. Apesar de soarem perfeitos perfeitos, os Gang Gang Dance preservam uma certa qualidade artesanal que os impede, por exemplo, de serem demasiado perfeitos – e em última análise aborrecidos.
Há de tudo em Eye Contact: para além de maravilhosos sintetizadores, há R&B, electrónica, experimentalismo para dar e vender, dub camuflado, funk demencial, soul embriagada, música étnica, Caribe, o caos e ainda uma Liz Bougatsos implacável a conduzir os Gang Gang Dance pela luz e pelas trevas. E se alguém pensar que tudo isto não podia ficar ainda mais estranho, “MindKillaâ€, feita de batidas inconcebÃveis, surge para provar que os Gang Gang Dance não têm paralelo na Terra. Eye Contact é o disco mais pop da banda mas está totalmente longe de ser um disco pop. Na verdade, começa a ser difÃcil explicar o que são os Gang Gang Dance e para onde querem ir. O mais certo é que acabem por sair deste planeta um dia e não lhes voltemos a pôr os olhos em cima.