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Cristina Branco Não há só tangos em Paris

2011
Universal Music


Se não chovesse tanto no coração dos portugueses, certamente não haveria Fado. Mas Cristina Branco não se limita a ser uma das melhores intérpretes actuais da canção nacional, incorporando no repertório diversas influências musicais, mais do que nunca presentes no seu trabalho.

Não é de agora a aventura por outras paragens, mas deste recente périplo Cristina Branco trouxe como recuerdos tangos mestiçados por outras sonoridades latinas, cantadas nas línguas de Camões, Cantona e Che. Como na belíssima “Talvez” (cuja melancolia do acordeão introduz, logo ao início, um clima de hesitante prece romântica, repetido com intensidade no refrão), em “L’invitation Au Voyage” ou “Un Amor” – pontuado pela linha de contrabaixo de Bernardo Moreira e pela riqueza instrumental, do solo de piano aos violoncelos –, respectivamente.

A voz de Cristina Branco é cheia de tons e nuances, como em “Laurindinha”, na qual passeia por uma cascata de notas como se atravessasse diversas paisagens e estados de alma. Este é, aliás, um disco que convida a viajar, em que as canções surgem como postais enviados a partir de vários portos emocionais.

Há, também, lugar para versões, como o bolero “Dos Gardenias”, “Les Désespérés” ou “Não é Desgraça Ser Pobre”, fado de Amália Rodrigues cantado com garra e solenidade. Cristina Branco diz que «o fado é como o tango, ritmos de gente doída e pobre, mas de alma grande!». A graça da cantora enriquece-nos os dias com a luz de Lisboa, vista a partir de França ou Buenos Aires. Porque aqui está latente o «horror do domicilio» de que sofria Baudelaire.


Hugo Rocha Pereira
hrochapereira@bodyspace.net
29/04/2011