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Prommer & Barck Alex And The Grizzly

2011
Derwin Recordings


Muitos não reconhecerão estes nomes fora dos colectivos onde normalmente operam. No entanto, tanto um como o outro foram – e ainda são – responsáveis por alguma da mais ecléctica música produzida na Alemanha nestes últimos 15 anos. Prommer tem um trajecto único e seguro que passou pelos consistentes Fauna Flash, Trüby Trio, Voom:Voom e recentemente Drumlesson. Barck é um dos elementos químicos que constitui a extraordinária fórmula molecular dos Jazzanova, sexteto berlinense responsável por algumas das mais significativas convulsões na música popular pelo processo de depuração dos clássicos nos tubos de ensaio do modernismo.

Numa formal união de facto, Christian Prommer e Alex Barck uniram forças anímicas, fundiram sabedoria, desafiaram a proficiência na produção para a concepção de um projecto que tem frequentemente na house de Chicago um ponto de partida para esquadrinhar aventurosamente outras linguagens populares bem familiares. Nasce daí a principal força vital de um disco invulgarmente longo nos resultados que apresenta, mas viciante pela forma como amiúde obriga o melómano a revisitar todo percurso com a finalidade de indagar minudências antes perdidas. E há de facto muitas que só volvidas algumas escutas imergirão para completar o cenário.

É, pois, perante uma surpreendente riqueza cénica com que nos deparamos; de várias fantasias terrenas que apelam ao escape, à paz de espírito, mas que também extravasam êxtase, hedonismo na hora da provocação. De telas repletas de cores vivas que transcendem as limitadas paletas disponibilizadas nos sonhos melancólicos, de paisagens idílicas que vão da ruralidade às praias tropicais, dos perfumes distintos que marcam o pôr-do-sol, a liberdade da pista de dança ou a magia do amor numa madrugada a contemplar constelações, tudo é representado em planos singulares consequência de eloquentes e pormenorizadas pinceladas.

O recurso a sofisticadas narrativas pop a transpirar soul, electro, techno, house, folk, ambientalismo, reminiscências kraut ou fantasias jazzisticas são garantias suficientes para que nada se ignore neste extenso festim desenhado para a época estival. Por disponibilizar ferramentas de design sonoro eficazes para proporcionar as mais idílicas sugestões – muito à semelhança da obra de um Kuniyuki Takahashi –, Alex And The Grizzly de Prommer & Barck representa uma viagem arrojada mas segura a um mundo que não nos é estranho, que ambicionamos sempre que o calor aperta, e que que normalmente nos limitamos a contemplar na televisão ou em catálogos de agência de viagens. Assim se obriga a fantasia a diligências. 2011 volta uma vez mais a mostrar do que é feito. Para descobrir com urgência.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
14/04/2011