bodyspace.net


Jesse Sparhawk or Kestrel

2011


Jesse Sparhawk é um multi-instrumentista. Toca harpa (estudou com a harpista principal da Filarmónica de Nova Iorque, entre outras, entre os 10 e os 17 anos), guitarra e baixo eléctrico e no entanto, neste disco, que é oficialmente a sua estreia na guitarra, o músico norte-americano parece ter deixado para trás os ensinamentos do passado – qual tábua rasa – e construído uma nova linguagem para si mesmo. Uma linguagem que terá aprofundado ao colaborar nos últimos anos com gente como os Fern Knight, The Valerie Project, Timesbold, Marissa Nadler, Greg Weeks (dos Espers) ou Eric Carbonara.

Uma linguagem que pode ser capturada no belíssimo tema principal da banda-sonora de Tarnation, assinado pelas mãos e guitarra do próprio Jesse Sparhawk; de tal forma que só apetece assobiar. As composições de Jesse Sparhawk, apesar de tecnicamente imaculadas, não devem tanto à técnica como à sensibilidade – ao sentimento, se preferirem. Entende-se a influência da educação clássica no trabalho de Jesse Sparhawk, mas o que vem ao de cima é muito mais do que isso.

E o que vem ao de cima é uma admirável capacidade de criar espaços de enorme interesse melódico e estilístico (cada faixa poderia ser o tema principal de uma banda-sonora de um filme com substância humana e cinematográfica), de fazer muito com pouco, de patentear pequenos e grandes motivos bem fundo na memória – como acontece em “Architects of Archetypes” ou em “Vine Of Souls”, de uma beleza desarmante. Pelo meio, Jesse Sparhawk ainda consegue alguns dos melhores títulos de canções dos últimos tempos (a já citada, “Super Deluxe Unorthodox Detox”, “Perpetually Perpetrating Perpetuity” ou “Don't Mention Dimension Dementia”). Para descobrir no silêncio.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
08/04/2011