Dan Bejar passou-se. A sĂ©rio. Foi de fazer discos com notĂłrias influĂŞncias folk, passou para discos de indie rock e agora foi aos anos 80 ver o que de lá conseguia trazer e fez um disco surpreendente. Surpreendentemente bom. NĂŁo que o antigo Destroyer nĂŁo tivesse já mostrado suficientes motivos de interesse, mas isto Ă© uma surpresa daquelas. Felizmente, Kaputt, nĂŁo faz justiça ao seu tĂtulo; nĂŁo Ă© um fim, Ă© como um recomeço para Daniel Bejar, uma forma de se reinventar. E uma forma de provar que o Canadá continua com a pica toda.
A pica toda em Kaputt está neste conjunto de canções luxuosas que reciclam hábitos antigos de uma pop que nas mĂŁos dos Roxy Music ou dos Talk Talk teve sucessos memoráveis. É uma pop luxuosa esta que mostra todos os seus atributos em base muitas vezes minimalista, directa e acessĂvel. Batidas para todos os gostos e feitos, teclados de tantas cores e sabores, trompetes, flautas e saxofones que parecem saĂdos de um sonho. Tapeçaria da mais elevada qualidade, louça com ouro de 24 quilates, um bom gosto desconcertante num territĂłrio tantas vezes escorregadio.
O que Kaputt tem de excelente tem em “Downtown” um fiel representante. Guitarras em cascata processadas por sonhos, um saxofone a rasgar o horizonte, batida certeira, momentos de tensão e crescendos de tirar o fôlego, um certo Groove e uma pitada de sensualidade – que até existe para além da voz feminina que anda lado a lado com Daniel Bejar percorre esta aventura. Com “Downtown” é sempre Verão. E com Kaputt é sempre momento para celebrar a imensidão da pop e a sua renovável capacidade de fazer sonhar o comum dos mortais para além da realidade. Kaputt é reinvenção, capiche?