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Destroyer Kaputt

2011
Merge


Dan Bejar passou-se. A sério. Foi de fazer discos com notórias influências folk, passou para discos de indie rock e agora foi aos anos 80 ver o que de lá conseguia trazer e fez um disco surpreendente. Surpreendentemente bom. Não que o antigo Destroyer não tivesse já mostrado suficientes motivos de interesse, mas isto é uma surpresa daquelas. Felizmente, Kaputt, não faz justiça ao seu título; não é um fim, é como um recomeço para Daniel Bejar, uma forma de se reinventar. E uma forma de provar que o Canadá continua com a pica toda.

A pica toda em Kaputt está neste conjunto de canções luxuosas que reciclam hábitos antigos de uma pop que nas mãos dos Roxy Music ou dos Talk Talk teve sucessos memoráveis. É uma pop luxuosa esta que mostra todos os seus atributos em base muitas vezes minimalista, directa e acessível. Batidas para todos os gostos e feitos, teclados de tantas cores e sabores, trompetes, flautas e saxofones que parecem saídos de um sonho. Tapeçaria da mais elevada qualidade, louça com ouro de 24 quilates, um bom gosto desconcertante num território tantas vezes escorregadio.

O que Kaputt tem de excelente tem em “Downtown” um fiel representante. Guitarras em cascata processadas por sonhos, um saxofone a rasgar o horizonte, batida certeira, momentos de tensão e crescendos de tirar o fôlego, um certo Groove e uma pitada de sensualidade – que até existe para além da voz feminina que anda lado a lado com Daniel Bejar percorre esta aventura. Com “Downtown” é sempre Verão. E com Kaputt é sempre momento para celebrar a imensidão da pop e a sua renovável capacidade de fazer sonhar o comum dos mortais para além da realidade. Kaputt é reinvenção, capiche?


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
19/03/2011