Silje Nes Ă© a orgulhosa detentora de: 1) um talento que lhe permite compĂ´r e tocar praticamente todas as canções presentes em Opticks (salvo algumas excepções) e 2) uma voz bonita, que flutua no ar como que se fĂ´ra uma menina tĂmida a cantar. O resultado? Um disco folk intimista q.b., de guitarras calmas e incursões pela electrĂłnica para dar maior corpo a esta fria Escandinávia de onde provĂ©m, se bem que por vezes o ruĂdo atrapalha um pouco a atenção que a melodia nos merece.
Mas as canções sĂŁo boas; embora "The Glass Harp" tenha a meio um casamento com feedback que parece ter sido forçado, abre Opticks com a toada adequada que se pode esperar do restante: a guitarra em primeiro plano, os sons criados com laptop a ajudar ao ambiente. "Silver > Blue", original de Thurston Moore - e agora já percebemos o amor de Silje pelo ruĂdo - Ă© quiçá a faixa mais forte do disco, de tĂŁo bem cuidada que está. E, claro, "Crystals", que foi o primeiro single, onde a melancolia faz a canção; dancing through the snow, parece dizer.
Praticamente sĂł em "Branches" temos uma visĂŁo da qualidade de Silje enquanto escritora - Ă© que, mesmo que cantadas em inglĂŞs, as letras sĂŁo quase sempre imperceptĂveis; nota-se que a voz Ă© aqui usada como mais um instrumento, carregada com ecos e efeitos vários. Importa? NĂŁo. A meiguice Ă© tanta que, francamente, nĂŁo importa se Silje está a dizer as maiores barbaridades ou a declamar os mais belos poemas que já se escreveram. Para nĂłs soará sempre como um beijo.