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Acid Mothers Temple SWR & Umezu Kazutoki Sax & The City

2011
/ AWDRL/R2


Das múltiplas derivações que surgiram à volta dos Acid Mothers Temple, histórica instituição vinda das terras do sol nascente, o trio SWR explora aquela que será talvez a faceta musical menos previsível: uma estética assumidamente próxima do free jazz num cruzamento com um rock abrasivo. Nesta gravação o trio de Kawabata Makoto (guitarras), Tsuyama Atsushi (baixo, flauta e voz) e Yoshida Tatsuya (dos Ruins, na bateria, teclados e voz) tem a colaboração do palhetista Umezu Kazutoki (saxofone alto, clarinete e clarinete baixo), numa combinação que promete alargar horizontes.

A vertente rock continua sempre presente, mas o contributo de Kazutoki acrescenta necessariamente ao trio um lado mais jazzístico. Essa faceta não se deixa, contudo, o agora quarteto ficar condicionado por um caminho estritamente canónico: a música, apesar da filiação, deixa-se levar por uma filosofia libertária. Essa característica está patente em diversos momentos: na primeira faixa, “The Jetplane of the Derangement”, levamos com um rebuliço instrumental que às vezes não tem paralelo em alguns projectos de improvisação dura; na penúltima “Timeless Kitchen” somos arrastados na avalanche de energia e catarse.

Pelo meio o trio+1 diversifica a abordagem, explorando também outros ambientes: “Sax, Truck, Doujima Roll” inaugura o subgénero “psicadélico fantasmagórico”; “No Stone, No Woman, No Records” combina um roubo étnico (arábico) com uma evolução demoníaca e um final quase-prog (tudo isto encaixado em pouco mais de oito minutos); com o tema-título “Sax & The City” chega a aparente acalmia (bem merecida, por sinal).

Apesar da diversidade de estratégias utilizadas, há uma coerência que atravessa o álbum: Umezu Kazutoki rouba o protagonismo aos AMT SWR e, do papel de convidado, ganha honras de elemento central. O saxofone (e os clarinetes) passa a ser o elo de ligação, conectando e interligando as diferentes viagens cósmicas. Como se esperava, encontramos uma música feita de desvario, energia e labaredas. E, felizmente, vai além do que se esperava.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
04/03/2011