James Toth passou por momentos de merda: uma tour que correu mal, um divórcio, uma detenção. E como qualquer artista, dilui os momentos por que passou em canções, em exercÃcios de auto-ajuda, em reflexões introspectivas. Um pouco à semelhança do Job bÃblico, que nunca abandonou Deus mesmo quando Este parecia tê-lo feito. O Deus de Toth são as suas canções, uma Americana sangrando e sorrindo (sim, sorrindo) as histórias que achou por bem revelar ao mundo.
Lançado pela Young God de Michael Gira, que o tem em grande conta no que toca ao cÃrculo de singer-songwriters estado-unidenses, Death Seat parece ser a reabilitação do músico, o restaurar das suas riquezas por parte do divino. Do quase-gospel de "Sleepwalking After Midnight" avançamos para um dos grandes momentos do disco: "The Mountain" é uma canção bela, belÃssima, e mais do que isso, a ressurreição espiritual; Shoot those places back into my mind / Separate the space from all this time. Ou seja, "sim, passei momentos de merda, mas ainda estou aqui, estou vivo, e canto".
Para o provar fica a electricidade de canções como "Servant To Blues", ou o beijo entre bandolim e guitarra na faixa homónima. Não existe nada de depressivo no disco, para além do conteúdo lÃrico; Toth, ou Wooden Wand, fala com confiança, com um sentido de humor miserabilista, a capacidade de rir de si, que só os grandes possuem. É ele o "Bobby": The meek won´t inherit a thing. Uma enorme lição de vida, então, a de saber deixar o passado para trás e saltar sem medo para o precipÃcio - porque, afinal de contas, sabemos voar, não temos é consciência disso. E existirá sempre um hotel bar in the sky.