Em 2008 todo o amor foi, de facto, cego. Isto porque Antony Hegarty, que tem por norma embalar-nos em canções de uma intensidade inesgotável e, por vezes, esgotante, surgiu como voz para a campanha de divulgação dos Hercules And Love Affair em “Blind”. Mesmo que em performances ao vivo não pudéssemos desfrutar das vocalizações do britânico, os nova-iorquinos sabiam mascará-lo e, até, dar-lhe nova aparência.
Mas tudo não passou de uma colaboração. E, como já se sabe, a segunda vez é sempre pior que a primeira, sobretudo por esta se ter revelado um sucesso retumbante. Então, guiados por Andy Butler, a tarefa aparentemente hercúlea acabou por se verificar bastante fácil. O formato pouco ou nada mudou: disco, house, sopros e teclas sintetizados, dominados pelo staccato, dance-punk e ficamos por aqui. Mas isso é o suficiente para que possamos passar uma noite inteira sob a orientação rítmica e melodia dos nova-iorquinos. Aqui moraram também Kele Okereke, dos Bloc Party, e a já conhecida Kim Ann Foxman, a beleza andrógina que, ao vivo, fazia facilmente esquecer Antony.
É portanto, sem grandes dificuldades, que os Hercules And Love Affair superaram o segundo nível (o mais árduo, dizem) dos discos de estúdio. Sem inventarem muito, conseguiram uma vez mais mostrar como se dança nos dias de hoje, recorrendo a fórmulas que no passado demonstraram ser bem sucedidas. Blue Songs não é surpreendente mas é competente.